:: Raridades ::
quinta-feira, novembro 11, 2004

Engraçado é como a palavra "figuraça" pode ser um eufemismo para designar pessoas loucas. No mínimo curioso.

E nessa de semiótica, passei a perceber que o som diz tanto sobre o sentido subjacente das palavras como as próprias palavras determinam a linguagem do pensamento - por isso mesmo seu viés. Exemplos? Hmmm... adoro dizer a palavra "tobogã", porque me acalma. E no outro dia vi uma amiga evangélica num fenômeno que eles chamam de "orar em línguas" - mas, em vez de ser obras da divindade, acredito que as tais sílabas são tão somente expressões de idéias - ou de seus fragmentos - liberadas pelo veículo da fala sem codificação. E sim, elas são a expressão fiel dessas idéias.

Que legal.

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Esses dias tive o pior tipo de saudade que se pode ter: saudade daquilo que nunca se teve.

Estávamos eu e Hugão de bobeira no minhocão. Íamos prum esqueminha lá na Antropologia (o Antro, só não se sabe de que) mas tava fraco demás... fomos parar num esqueminha na FAU. Tava muito bom mesmo, gente bonita, boa música, mas... a gente tava mais perdido que cusco caído de caminhão de mudança. Na verdade, o fato é que nunca, em 4 anos naquela universidade, tinha ido pra uma festinha tão descoladette (os esquemas CAHIS-e-demais-CAs-podiscrê não se incluem nessa categoria, claro.) O REL é uma parada tão pretensiosamente sofisticada que nossas festinhas chegam a parecer de repartição pública.

Strangely enough, vou em uma daqui a pouco, e estou até empolgado. Vai entender essa cabecinha...

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No outro dia fomos no "Êxodos", aquele esquema de teatro alternativo no ICC sul. Tinha uns 3 esquétes que estavam legais: o casal no buraco, a bailarina, a moça vendo filmes de viagem. Do resto eu não gostei, way too alternative for me . Tive até vontade de vomitar em um deles, que envolvia um frango morto e outros alimentos. Não aguentei três minutos desse. Estômago fraco o meu.

Fora que eu já tinha gasto todo o pouco fosfato que me restava no concurso da ANEEL, aliás, a prova mais cansativa ever. Será? Hmmm... não sei. Quem sabe? Nunca se sabe. Pelo menos nunca ao certo. Importa?

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O mundo é cheio de assimetrias, e temos que nos acostumar com elas. Uma das que mais incomoda essa pobre alma que vos fala é a assimetria de gostares: uma pessoa nunca gosta de outra da mesma forma que é gostada pela mesma. Pior: as gentes nunca estão lá quando outras gentes precisam delas, e quanto mais procuram, mais distantes ficam dos que querem achar.

E como lidar com isso, se ser gostado é uma necessidade humana tão vital e tão parte daquilo que concebemos como amor próprio? Resignar-se? Jamais. Esse verbo não transita muito em meu dicionário. Mas aceitar a diferença, nesse caso, pode ser a melhor reação-pró-ativa que se pode ter. Afinal, quem dá o afago é quem o recebe de verdade. Só aquilo que damos nos pertence. O resto é só emprestado.

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Brasília, pode ter chegado a grande hora da decisão. Será que é tempo de levantar âncoras e seguir para o próximo porto, ou será que o impossível - bater pilares de fundações - finalmente acontecerá?

Durante tempo demais achei que esse lugar nem porto era - não passava de uma área de passagem, como o Passo do Bósforo ou de Magalhães. Ledo engano. Mais que um porto, Brasília mostrou-se como um lugar em que poderia estar-se à deriva sem sair do lugar, e sem nunca ver terra firme. Engraçado. Só fui perceber isso quando recolhi as velas no meio da ventania.

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A maré mudou, a começar pelos cabelos. Agora, mais curtos e comportados, como d'antes. Mas agora já temos quase o dobro de tempo de calmaria do que se passou na tempestade - ou será que foi o contrário? Não sei mesmo. Bem, se foi-se foi, a ventania já passou, e os cabelos curtos refletem isso. Mas é da natureza das ventanias deixar rasgos, e de alguma forma, moldar as velas. Por isso, nào está tudo exatamente como d'antes. Nunca poderiam estar.

Se não nos restou nada, resta apenas tirar algo de positivo do que passou. Mesmo que muito pouco. Mesmo que só a vantagem - conceitual, nada mais - de se ter passado.

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RAFA @ 20:08 tic-tac-tic-tac