:: Raridades ::
domingo, dezembro 05, 2004

Depois da gracinha, uma atualização mui sóbria - e mui longa


Like a bug in the windshield

Não, queridos amigos e dândis de plantão. Apesar do Scania aí de cima ser lindo, eu não fui nem tenho planos de ir à tal fórmula truck. Aliás, que bizarro ter um bem no postinho da UnB. Bizarro e bonito. O cão-minhão é só pra estimular a imaginação mesmo. É licença poética. Metáfora.

Exercitem sua capacidade de abstração: fechem os olhos, e imaginem que vocês estão em uma auto-estrada deserta. Agora, imaginem que uma carreta Scania de oito toneladas que nem essa aí em cima se choca contra seu lindo corpitcho a oitenta por hora, despejando todos os zilhões de joules de força de impacto sobre suas milhões de células. Bonito, né? Cool, really cool.

Pois foi assim que a gripe me fez sentir no começo da semana. É a segunda vez que fico doente esse ano, o que me mantém na média histórica de dois disease-breaks por ano. Nada mal, apesar do break do começo do ano ter contado por uma década. Engraçado, uma gripe é realmente a única coisa que pode me levar pra cama these days - lembro como lá em Recife a turma bota nomes de mulher nas gripes, tipo "Davanira", como se fosse uma vagaba que sai de homem em homem distribuindo uma gonorréia. Só que o resultado disso, pra mim, foi uma espécie de anti-orgasmo. E múltiplo, ainda por cima. Aquela dorzinha stinging cada pedacinho de carne desses um metro e noventa e setenta e poucos quilos.

Pela primeira vez, usei meu plano de saúde civil. Não foi uma boa experiência. Por mais que o hospital particular seja lindo comparado aos espartanos ambulatórios militares que me acompanham desde que nasci, acho que confio mais nos sargentões toscos. A impressão que tive é que tudo é lindo nos hospitais dos planos de saúde, mas nada funciona de fato. Pra fazer um exame de sangue foi uma guerra. Era uma guerra bem mais fácil para a milicada.

Ainda não tô 100%, apesar dos antibióticos. But we keep on juggling. Se alguém aí quiser me fazer um cafuné, juro que melhoro mais rápido.

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Parabéns aos meus irmãos Pedro e Pablo pela aprovação no mestrado em REL. Os bichos arrebentam, pode falar.

Queria ter feito a prova, mas fiquei com dó de pagar 120 legais de inscrição num mestrado que não queria fazer. Resolvi tentar só o de POL mesmo. Fiz a primeira prova hoje, não muito difícil, mas o processo administrativo tem se mostrado um verdadeiro caos. Cara, que bagunça. Que bagunça. O cúmulo do fazer-nas-coxas.

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Apesar do corpo ter reclamado essa semana - e de continuar reclamando - os últimos tempos têm sido de ótimos inputs para a cabeça. Ótimos mesmo.

Primeiro, vi um filme australiano, The Rage in Placid Lake, sobre um cara filho de pothead hippies que decide fazer o que mais atormentaria seus pais - virar um engravatado burocrata de seguros. Excelente reflexão sobre essa tal ordem cósmica que só nos faz atingir o que queremos quando não queremos mais. E de sermos gostados só pelas pessoas que não gostamos. Defeitos de fabricação dos seres humanos. Excelente.

Vi também a adaptação contemporânea que a BBC fez do Sea Captains' Tale, dos Canterbury Tales de Sir Geoffrey Chaucer. Como diria um antigo professor, os clássicos são bons simplesmente porque sobreviveram à prova do tempo, e os Canterbury Tales é daqueles clássicos que você se martiriza por não ter lido o completo e/ou original, mas acaba só lendo a sinopse porque tá sem saco. Outro defeito humano.

Nessa adaptação, o conto se passa numa comunidade indiana de Londres, e eu, que quase não adoro a Índia, fiquei maravilhado. Principalmente com a atriz que faz a personagem "Meena" da adaptação, Indira Varma. A mesma que fez Kama Sutra, quase dez anos atrás, e esqueceu de depilar a virilha. Só que nessa ela tá gata demais. Gata demais, do verbo "ca-ra-lho". Me deu até vontade de namorar uma indiana, que nem ela, de preferência.

Revi alguns filmes da classificação "pra ter em casa para rever todo mês" como o argentino Lugares Comuns (brilhante o monólogo sobre a Lucidez, simplesmente perfeito) e Um Ato de Coragem, aquele com o Denzel Washington (alguém lembrou do Direito de Rebelião do Locke quando viu esse aí, ou fui só eu?). Mas a descoberta mesmo foi Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Obra-prima do Charlie Kaufman, com "O" maiúsculo. Até aplaudi no final. Caralho, que filme bom. Pra ter em casa mes-mo.

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Oddly enough, estou cada vez mais seduzido pela estética de praia ultimamente. Essa coisa de havaianas floridas, fotos do Hawaii (o único estado americano que realmente presta, né?) e meia hora babando pelas gatas de bikini da revista Fluir. Tem o clipe da Natasha Bedingfield, These Words, que é dentro dessa estética e eu também adorei.

Meus pais foram pro Rio e eu vou também muito em breve, se tudo der certo. Juro que vou ficar no mínimo meia hora sentado no quebra-mar da Urca vendo a enseada de Botafogo e as baratinhas nas pedras lá embaixo. E vou sonhar com um verão de sombra e água fresca visitando ilhas do Pacífico, do Tahiti a Bali. Muita sombra, porque eu adoro praia, mas odeio calor. Pode?

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Uma malha canelada, um ponytail, uma saint-tropez com a bordinha da calcinha esportiva aparecendo, sunglasses. Um corpo do caralho. A qualquer hora do dia, pode aparecer. I'll be right here. E prometo que não vou gritar (muito).

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Pra mim, o termo "forças do progresso" se resumem a alguns pontos: não à pena de morte e ao porte de armas, sim à pesquisa com células-tronco e à interrupção legal da gravidez até a oitava semana. Não à discriminação civil por raça, gênero ou opção sexual (dizer não ao casamento gay é discriminação civil, e consentida, o que é pior). E um sonoro não a qualquer política de cotas e ação afirmativa, que não se resolve uma aberração com outra.

Cada vez mais me convenço que o caminho para tudo isso é de cima pra baixo. As massas hoje em dia são reacionárias. Não sei, mas começo a achar fortemente que o progresso nesses
assuntos só se dará via súmula de Suprema Corte. Se existem aberrações como aquela lei dataxa de votos pra negros no Alabama que se mantém no voto popular, tem que haver alguém pra dizer que isso não tá certo.

Democracia é bom, mas não pra tudo.

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Poucas coisas são mais culturalmente sem coerência do que um rapper de carrão. Não tô dizendo que preto não combina com Bentley conversível, como absurdamente ouvi esses dias. Mas que essas jóias reluzentes e litros de champagne Cristal são fake, ah são. Ea turma compra isso, o que é pior. E acha o máximo. Eca.

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Pelo jeito a turma nao gostou do post engraçadinho sobre as mulheres e comida. Beleza. Mas até parece que vocês não me conhecem. Eu dou uma de engraçadinho de vez em quando mesmo, e não peço disclaimers pra falar merda, nem antes, nem depois. O post de hoje, por exemplo, foi bem mais denso e sério do que de costume. Just because I felt like writing. Mas não tardará falar merda de novo aqui. Afinal, falar merda faz bem pra saúde, e pra pele.


RAFA @ 18:58 tic-tac-tic-tac