:: Raridades ::
terça-feira, maio 03, 2005

É pessoal, estou num inferno astral daqueles. Falta dos pais? Não exatamente. Essa viagem será ótima para ampliar os horizontes deles, e sobre isso eu não poderia estar mais feliz. O problema é cuidar de dois marmanjos barbados - que dada a ausência do superego repressor social, têm reforçado a dieta de excrementos, diariamente - e de uma casa cheia de pequenos problemas. E aqui estou eu, dearest friends, cuidando da vida que há meses planejo desmontar...

Ontem mesmo, depois de um dia de trabalho, exausto a ponto de não ir jantar para não levantar da cama, me liga meu irmão mais novo, querendo "carona" (ou melhor, que eu o buscasse) no Aeroporto, half-a-city away. Olha, quando meus pais chegarem, darei um beijo santificador neles, porque ter tido que agüentar esse tipo de coisa, de mim e dos meus irmãos, por todos estes anos, certamente os qualifica para um open bar com sushi no Paraíso, por toda a eternidade.

Boa parte desse inferno vem do mestrado. Acho que a euforia inicial passou, e estou de saco absolutamente cheio de ir às aulas. Não por causa dos professores, que são muito bons - principalmente o Martino, um cara que em tão pouco tempo já me despertou uma admiração profunda, apesar da disciplina quase fascistóide que impõe (Síndrome de Estocolmo? Será?). O grande, graaaande problema são os colegas. Na sua grande maioria, são uns boçais, dogmáticos, preconceituosos, mente-fechada, enfim, tudo o que um aluno de pós-graduação não deve ser - salva-se honrosa meia dúzia quase exata, notadamente da minha linha de pesquisa. É horrível sentir que é um dos melhores da turma sem fazer nenhum esforço, simplesmente pelo fato de que a média é baixa. Mais ou menos o contrário que eu sentia na Inglaterra, que meus pares eram tão bons que me via obrigado a me nivelar. E que calor naquela sala... socorro! Consul, Brastemp, por favor, pretty please with sugar on top, doem um ar condicionado decente praquela FAC!

O fato é que cansei de tanta tioría, e estou doido para começar a botar a mão na massa logo e andar com meu projeto. Se algo me diz que esses dois anos nos porões do minhocão serão longos, é melhor eu começar a produzir big stuff. BTW, acho que fechei o objeto na pesquisa ontem, no trânsito, fazendo balão. Gritei "eureka!" - mas os outros carros devem ter achado que eu estava era xingando. Fazer o que? Great ideas come in the most unusual places, isso eu posso dizer.

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Mas nem tudo são espinhos. Ontem chegou meu primeiro contracheque do novo trabalho, e eu, como menino responsável que sou, paguei todas as contas que tinha em meu nome antes de tudo - nem eram tantas assim after all. Depois, me permiti a um momento de auto-indulgência, porque afinal de contas eu mereço: fui a um restaurante legal na Asa Sul, sozinho, e pedi o prato que mais me apetecia, um ravioli com salmão, frutos do mar e manjericão. Comemorei regiamente com um cálice de Porto tawny. Nem vi quanto deu: dei o Visa e assinei sem olhar. E ainda fui ver roupa no ParkShopping depois. Eu adoro o capitalismo.

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E o Botafogo, hem? Ganhou da Argentina, ou melhor, do Corinthians. E de 3! É claro que tive a maior satisfação do mundo em zoar meu ilustre irmão, sem o menor traço de piedade. Por isso é bom ser botafoguense: quando seu time ganha, você se sente vingado da vida. Tudo tá dando errado, e tá tão errado que até o alvinegro tá ganhado. E a vingança é a carne crua e doce que satisfaz nossos instintos predadores...

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Domingo fui comer um tutu à mineira, na seção consular de MG no DF, mais conhecida como "Zona da Mata". Me fez perceber que a ONU deveria mandar inspetores a todas as cozinhas do estado vizinho, em busca dessas armas químicas, antes que os americanos cismem. Blindei meu estômago com uma dose dupla de omeprazol e fui à luta.

Isso, mais o Botafogo ganhando, me fez perceber que nem tudo está tão ruim como parece. E que sim, como dizia Michael Stipe, "I have all the right friends".

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Inspirado por uma amiga que está longe longe, mas tão perto perto: é, minha cara, nossa mente é realmente boa de fazer sofismas, e de se convencer cegamente deles. E para isso servem - também - os amigos: para tentar te convencer do contrário, mesmo quando não se quer ser convencido. Ainda acredito que, apesar dos sofismas, fatos são fatos, e a razão humana, mesmo confusa em meio a percepções distorcidas dos sentidos, logo dá um jeito de achar o caminho. Porque a felicidade não está em convencer-se de uma mentira, sofismada ou não. Não é uma questão de se acreditar que está feliz, e sim de saber que está feliz.

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Já tinha me prometido que ia parar com esses posts do tipo "querido diário", mas ao que parece ninguém gostou dos meus posts referenciados. Fazer o que? Quem não se comunica se trumbica, e eu não escrevo esse blog para que eu leia sozinho, do I?

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Na vitrola: Kasabian, com Club foot e Processed beats, Placebo, ainda na onda do show, com Bitter end (porque será?) e Paul Weller - queria mesmo ter a voz desse cara. Estou recompondo o acervo depois da última tempestade computadorística, e como paciência é a maior das virtudes...

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RAFA @ 07:59 tic-tac-tic-tac