:: Raridades ::
quinta-feira, outubro 27, 2005

O salário é uma merda, mas o cartão...

cartao

Porque, mesmo com a sala feia, o PC lento e as petty politics, eu tenho prazer de ir trabalhar. Impressionante.

(Homenagem ao dia do serviço público. Afinal, alguém tem que fazer o executivo federal funcionar. Mesmo que sobre a tortura do terno nesse calor infernal.)

* * *

RAFA @ 17:01 tic-tac-tic-tac

quarta-feira, outubro 26, 2005

Ode à Lucidez

But we´re never gonna survive unless we get a little crazy
No we´re never gonna survive unless, we are a little...


(em homenagem à Feefs e à Dea, sempre lembro delas quando escuto essa música)

* * *

RAFA @ 13:35 tic-tac-tic-tac

Discos do mês

(em homenagem à música do meu Brasil varonil)

Ludov - O Exercício Das Pequenas Coisas
Maria Rita - Segundo
Nando Reis e os Infernais - MTV Ao Vivo
Pato Fu - Toda Cura Para Todo Mal

e, last but not least...

Zeca Pagodinho - Acústico MTV
Ivete Sangalo - MTV Ao Vivo

Tá bom tá bom, eu admito, também estou ouvindo os últimos do Incubus e do Kaiser Chiefs, mas estou fazendo um esforço pra ouvir mais discos nacionais. E pra quem estranhou o Zeca e a Ivete, lembrem-se: róquenrou é uma atitude, não um gênero.

* * *

RAFA @ 13:19 tic-tac-tic-tac

sexta-feira, outubro 21, 2005

Rafa no te enamores
más de mujeres extranjeras
ellas enloquecen a los hombres con su mirar
Fijate como a tí
te enloqueció esa brasilera
la que conociste una mañana
en Valledupar
Por eso Zabaleta
como amigo te aconseja
que de las extranjeras
no te vuelvas a enamorar...

RAFA @ 02:05 tic-tac-tic-tac

segunda-feira, outubro 17, 2005

Virou fotolog.

Cláudio

Bohemia Confraria, as amantes apócrifas de Pedro II, o assessor galante de Bento XVI, as menininhas de boné Von Bitch, despedida do meu irmão, e outros assuntos interessantes.

Fotchenha by Juka, a turka. Comidjenhas dela também.

* * *

RAFA @ 23:47 tic-tac-tic-tac

domingo, outubro 16, 2005

O Dever de Casa

Olha, cada um vem ao mundo com vários karmas por resolver. Um dos meus maiores, queridos amigos, é o tal do dever de casa.

Sim, em toda minha vida escolar, eu sempre fui o nerd. Um dos melhores da classe, quando não o melhor. Mas eu nunca, jamais fazia o dever de casa. E sempre era repreendido por isso pelos mestres.

Mesmo quando o professor era daqueles que tirava nota daqueles que não entregavam o dever, não tinha jeito. Eu ficava naquela culpa de ter perdido aquele meio ponto... mas não havia o que me fizesse mudar de comportamento. Porque minha casa era lugar de curtir. Jogar videogame, ler tudo o que eu gostava, jogar RPG, enfim, tudo o que uma criança nerd faz. Não pra fazer dever.

Não entendam essa carência como uma incapacidade de cumprir cronogramas, o que faço de maneira normal e razoável para um latino-americano com influências inglesas. Tampouco intrepretem como se não fizesse nenhum tipo de coisa útil à escola em casa. Por exemplo, sempre adorei as leituras, então ler era beleza, até gostava. Mas dever mesmo, daqueles de responder exercício com lacuninhas ou cálculos, esses eu só fazia na marra.

Obviamente, nunca fui reprovado pela falta de dever, tampouco tive hard times no fim do ano por isso. Mas é óbvio também que sempre tive um desempenho parco nas matérias que precisavam de prática freqüente, como matemática. Não tinha como ir bem se eu não fazia exercícios. E na véspera da prova não dava pra fazer muitos.

Hoje, aos 25 anos, eu ainda não consigo fazer o dever. Me dou mal por isso, mas não nos sentidos óbvios. No mestrado não tem "tia" pra cobrar o dever, são só as leituras que sempre adorei, e se estou com meu cronograma em dia, está tudo certo. Mas se é pra responder questionário, atualizar o Lattes, preencher formulário... eu procrastino, invento coisa, mas só faço quando a água está pra bater na bunda. Se é pra ler, é 2 segundos, sai rapidinho. Mas se é pra botar a mão na massa...

O pior de tudo é que ainda não sei se quero aprender a fazer dever. Não sei se isso é tão contra a minha natureza assim. E afinal de contas, no quesito falta de dever, nunca me fudi big time em nada, apesar de saber convictamente que acabo me fudendo aos poucos por isso. Ó dúvida cruel. Além de karma, acaba sendo um dilema hamletiano.

* * *

Yom Kippur

"We can forgive you for killing our sons. But we will never forgive you for making us kill yours." - Golda Meir

DidiMary-NigriTufi-DuekJoyceLuciano_Huck

Pois é, pra completar o momento religioso do ano, foi Yom Kippur quinta. Dia do perdão. E como para nós, reles procariontes na escala evolutiva espiritual, só é possível ter idéia das manisfestações de D´us nas "coincidências estranhas", houve muitas na semana passada, e principalmente na quinta.

Como sempre digo, uma das minhas maiores críticas ao cristianismo é essa noção de que o perdão é algo fácil fácil de conseguir. É algo como "take for granted" o amor de D´us: já que eles nos ama mesmo, vai entender as merdas que fazemos. O perdão deve ser eficaz para ser perdão de verdade, deve provocar transformações no mundo, para que o erro não aconteça mais, e haja um esforço para consertar o mal que fizemos e fazemos, todos os dias, mais de uma vez por dia.

Por outro lado, é claro que concordo que o ódio e o rancor são coisas que voltam-se para nós mesmo quando os guardamos em nós, e por isso a necessidade de perdoar, de tirar de nós o que é ruim e só atrapalha. Nada pode ser obstáculo maior à felicidade do que um coração pesado. Perdoar é algo necessário para sermos felizes de verdade.

Mas digam-me, once and for all: se o perdão ineficaz não é perdão de verdade, pra que perdoar só por perdoar? Dizer que perdoamos alguém que sabemos que não fará nada para mudar nunca irá, de fato, trazer alento a nossos corações. Concordo que poderá trazer a ilusão de que as coisas podem ser diferentes, mas não as farão diferentes de fato.

A frase da Golda Meir que reproduzi acima é mais uma da coleção de ótimas frases dela. Ela a disse no início dos acordos de paz entre Israel e Egito. Discordo dela em um ponto: nada é imperdoável. Talvez não para nós, em nosso estado de evolução espiritual, mas em termos absolutos essa impossibilidade não existe e não é logicamente incompatível. Mas ela nos diz que há guerras que devem ser lutadas, e que não devemos simplesmente aceitar o que é ruim apenas porque a passividade é mais leve. É querer tapar o sol com uma peneira. Mais do que um não-perdoar, brigar também é necessário.

Não podemos ter medo de nos manter fiés àquilo que consideramos ser o certo. E como não dá para apertar mãos com os punhos cerrados, aquele que tem visões de mundo opostas às minhas será, de uma forma ou de outra, meu inimigo. Pelo menos até que um de nós convença o outro, ou que algo destrua a mim ou a ele.

* * *

RAFA @ 14:13 tic-tac-tic-tac

terça-feira, outubro 04, 2005

Shaná Tová

rosh-hashanah-aphoney

Baruch atá Adonai, Eloheinu, melech haolam, borei pri haeitz.
Ihi ratzon mi lefanecha, Adonai Eloheinu ve elohei avoteinu shitichadeish aleinu shaná tová umetuká.


Cheguei em casa às seis da tarde, exausto por mais um dia de trabalho. Tenho estado muito cansado nessas últimas semanas, até um pouco desanimado em comparação ao otimismo e energia dos últimos meses. Mas este não era um dia comum. Mais cedo, havia passado no supermercado e comprado maçãs, e assim que cheguei em casa à tardinha apressei-me em tirar o paletó e acender um incenso.

Desliguei a TV, a casa toda quieta. Lá fora, o canto das cigarras mais parecia um shofar. Sentei-me no sofá e comecei a orar, pela primeira vez em muito, mas muito tempo mesmo. Sim, continuo sendo esse ser secular e sem religião de sempre, mas em um dia como este é preciso valorizar o espírito. Orei pelo meu novo lar, e pedi para que o altíssimo o abençoasse. Agradeci por ter amigos tão fantásticos, e orei por eles também, que sejam felizes e que possamos estar juntos por mais um ano, acertando e errando, mas juntos antes de tudo. Orei pela minha família, agora longe, mas ainda sim mais perto de nossas verdadeiras raízes. Orei pelo meu país, meu povo e pela humanidade, cada vez mais maltratada por si própria - como se isso fosse ao fim um grande teste à nossa vontade e convicção de lutar pelo que é bom e justo. Pedi um ano próspero e feliz para mim e para os que me cercam, e que possamos ter muito dinheiro, sorrisos e saúde.

Não sei se o Grande Pai quis me falar algo, mas o fato é que essa cabecinha anda cheia de pensamentos profundos. E ontem li uma entrevista com um grande escritor que só agravou essa situação. Por exemplo, tenho pensado em como apenas parte daquilo que sabemos sobre os outros é real, se é que o "real" realmente existe, sendo o resto fruto do nosso olhar, nosso prisma pessoal de imaginação e reflexões, que no fim, acabam sendo mais nós do que eles. E com tantas pessoas dentro de nossas cabeças, vivas ou mortas, é preciso deixá-las falar. Pode parecer maluco, mas mesmo os mortos e os objetos inanimados falam a nós de muitas formas. E é bom relaxar e deixá-los contar suas estórias, mesmo que fictícias, sentar com elas e bater um papo. Porque contar estórias é como comida, sono ou sexo: é preciso dar e receber.

Os inimigos imaginários podem ser bem reais às vezes, e muitas vezes não conseguimos perceber qual é o verdadeiro perigo a nós. Sim, também pensei na morte, e de como isso é um mistério que jogamos para baixo do tapete - afinal, dá pra curtir muito mais irresponsavelmente a festa se não nos preocupamos com a conta que deixamos para depois, e que acaba sendo paga por nós mesmo ou pelas pessoas que nos cercam, seja com justiça ou não. Tenho pensado também sobre o perdão, e como devo mostrar a algumas pessoas o quanto me arrependo por algumas coisas, e que estou disposto a reparar o que fiz. De como sou capaz de perdoar males que fazem a mim, mas como não consigo perdoar aqueles que me fazem fazer mal a alguém, mesmo que merecido. Enfim, me dou conta como o perdão é algo difícil de se dar e de se pedir. Afinal, só o arrependimento não basta. O perdão deve ser eficaz, provocar transformações na prática, ou não será verdadeiro.

Ando percebendo que há coisas nos genes humanos que são quase impossíveis de serem contornadas pelas idéias ou pela razão, e que quando gostamos de verdade de alguém por vezes conseguimos absorver o que há de melhor nelas, mas que também absorvemos parte do seu karma, e que devemos ter a coragem de lidar com isso mesmo quando o egoísmo nos diz para cuidar apenas de nossos próprios problemas. Que nossa idéia de justiça pode ser bem diferente da de outras pessoas, e que devemos debater e trocar impressões sobre isso, sem contudo deixarmos de nos manter fiéis ao que acreditamos. Tenho pensado também em como a vida é de fato um lindo milagre, e como fico feliz ao saber que algum amigo está "grávido".

E depois de tantas idéias desconexas, pensei nas coisas principais: em como me tornei uma pessoa verdadeiramente pragmática sem me render ao utilitarismo, e como gosto de me perceber assim. Os sonhos são sempre melhores que a realidade, e que a maior prova de maturidade é conseguir curtir a realidade, mesmo que ela não seja tão luminosa e bonita quanto no sonho. E que afinal, não é preciso amar as pessoas. Respeitar já tá bom. E olha que isso é muitíssimo!

Enfim, depois pensar tudo isso, agradeci por estar vivo. Como manda a tradição, enchi uma tigela com mel, e comi a maçã que havia reservado. Que nossas vidas sejam doces como o ano que começa, e que o livro que agora se abre seja cheio de belas estórias.

* * *

RAFA @ 20:09 tic-tac-tic-tac