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sábado, novembro 19, 2005

Person of the year: Candidato #2

longoProfile

Apresento-vos o Dr. Valter Longo, PhD, professor de biomedicina da University of Southern California. E quem tá a fim de ouvir piada, pode parar de ler por aqui. Isso aqui é bem sério, e igualmente interessante.

As pesquisas que este italiano de Gênova têm feito nos últimos anos não têm nada de "baboseira californiana" nos dizeres do velho mestre Gusmão, apesar de que têm resultados bombásticos - e talvez profundos de verdade para todos os campos do conhecimento humano e em nossas vidas cotidianas.

Dr. Valter descobriu recentemente que há uma relação direta entre a longevidade dos indivíduos e a quantidade de alimento que cada célula consome. Com mudanças no DNA, ele conseguiu fazer com que organismos simples vivam 6 vezes mais, simplesmente "otimizando" seu consumo de alimento, de modo a que não acumulem resíduos desnecessários. Resultados aqui. Próximo passo: células humanas.

Mas ele vai adiante: ele dá uma nova e revolucionária leitura à teoria da evolução darwiniana, dizendo que a morte é um instrumento muito mais profundo do que imaginamos na cadeia do tempo das espécies. Pare ele, a evolução não se dá em termos de indivíduos mais aptos, e sim de grupos, ou melhor, bolsões de genes. Ou seja: nas espécies, há organismos programados e fadados a morrer antes, em uma atitude "altruísta", para que outros de sua espécie possam sobreviver. Estranho é notar que tais "condenados" são normalmente os organismos mais ativos. Leia mais aqui. Tem uma página que explica bem essa teoria dele, mas não conseguindo mais achar no Google. Depois eu edito isso aqui.

Enfim, me interessei muito pela pesquisa e pelas teses dele. Afinal, se é inegável que Darwin teve um impacto profundo no pensamento posterior, seja no marxismo ou na sociologia de Durkheim, uma nova e radical interpretação da evolução das espécies - não individualmente, mas em grupos - pode certamente mudar bastante o modo como cooperamos e nos relacionamos com fellow humans e outras espécies.

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Enquanto isso, nos trópicos... leiam a notícia que transcrevi abaixo. A fonte é o blog do Josias de Souza.

Nada contra a igreja católica nem contra qualquer religião em específico. Nada mesmo. Mas não sejamos ambíguos: qualquer pessoa que admita que o Brasil é um país católico está negando a laicidade de nosso Estado. E Estado que não é laico não é sério. É feudal. Ignorante. Parou no tempo.

Enquanto isso, um cara que eu achava um jurista brilhante - o Prof Fontelles - me faz uma dessa. Nada contra alguém ter convicções. Mas esta peça escrita por ele, e defendida pelo atual PGR, carece de seriedade jurídica. Vi que, além de vascaíno, o Prof Fontelles tem outros defeitos sérios.

Ameaçadas as pesquisas com embriões humanos

O procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, encaminhou ontem ao STF (Supremo Tribunal Federal) um parecer que impõe grave ameaça às pesquisas científicas no Brasil. Ele se posicionou favorável à ação que pede a decretação da inconstitucionalidade do artigo 5o da Lei de Biossegurança.

É esse artigo que autoriza as pesquisas com células-tronco de embriões humanos no país. Se a posição do Ministério Público prevalecer, os experimentos serão proibidos. O parecer de Fernando de Souza será analisado no Supremo pelo ministro Carlos Brito, relator da ação de inconstitucionalidade, de autoria da própria procuradoria.

Na prática, Antônio Fernando de Souza apenas encampou o parecer que redigido por seu antecessor, Cláudio Fontelles. Católico fervoroso, Fontelles disse antes de deixar o cargo que se baseara apenas em argumentos jurídicos e científicos. Não é bem assim.

Fontelles produziu um texto fundado em teses de especialistas vinculados direta ou indiretamente à Igreja. A discussão gira em torno da definição do momento em que a vida humana começa. Para ele, a vida se inicia “a partir da fecundação”.

A prevalecer esse argumento, as pesquisas, ao destruir embriões humanos, violaria o direito constitucional à vida. É a mesma tese defendida pelo catolicismo. Para a Igreja, a vida começa no instante em que o espermatozóide fecunda o óvulo.

Cientistas e juristas que defendem as pesquisas com células tronco fazem uma leitura menos dogmática da lei. argumentam que é ao nascer que a pessoa física passa a ser dotada de personalidade jurídica, com os direitos e deveres previstos na Constituição.

No parecer de Fontelles, agora endossado por Fernando de Souza, são mencionados estudos de vários cientistas. Mas o ex-procurador-geral se eximiu de mencionar que todos têm vinculação com a Igreja.

Entre os especialistas citados por Fontelles está a professora Elizabeth Kipman Cerqueira. Ela representa a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Outra professora que menciona é Alice Teixeira Ferreira. Integra o Núcleo de Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Fontelles esgrimiu teses do professor Dalton Luiz de Paula Ramos. Ele é vinculado à Pontifícia Academia Pro Vita, uma entidade criada pelo Vaticano. Citou também experts estrangeiros. Entre eles o francês Jerôme Lejeune. Integrante da Opus Dei, o braço mais conservador da Igreja. O parecer não cita um único cientista verdadeiramente laico.

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RAFA @ 18:12 tic-tac-tic-tac