:: Raridades ::
domingo, janeiro 08, 2006

Crash, boom, bang.

Celta2002

Pense em alguém que anda mesmo precisando de um banho de sal grosso e arruda? Não tem jeito, parece que todo início de ano tenho que passar por um inferninho astral, pra dar trabalho ao anjo-da-guarda e pra me mostrar que muita coisa pode dar errado nessa nossa rotina alucinada. Hoje ele teve serviço, em boa gíria de milico, teve "alteração" durante o turno. E tenho a impressão que ele me salvou de uma merda beeem maior, o que já o deixa bem cotado para uma condecoração.

Seria mais uma batida de carro clássica de Brasília, não fossem todos os detalhes da trama. Saveiro pára na faixa de pedestres, Celta vem por trás e bate. O problema é que foi às duas da tarde, com um baita solão e pista seca, numa via de média pra alta velocidade e praticamente sem frear antes. Já tive acidentes menores no passado, inclusive um em que eu vi a dama negra de perto, depois de sair da estrada em velocidade. Mas esse foi de longe o mais sério que eu já me envolvi. E apesar da mão machucada, estou digitando essas palavras agora somente por causa de um bendito cinto de segurança. É pessoal, o cinto não salvou minha mão de bater no painel, mas salvou minha cara de bater no volante por coisa de uns três palmos, isso porque os pré-tensionadores não funcionaram como deveriam. E sabe qual é o mais foda? Eu quase nunca uso cinto, sendo o "quase nunca" do verbo "a cada era glacial". Hoje, por alguma razão desconhecida à nossa compreensão terrena, eu resolvi usar. Go figure. Condecoração à vista para el angelito.

Estava a quase 80 por hora, ali no final da L4 Sul, subindo para a L2, ali nas cercanias da Embaixada do Iraque, voltando pra casa. Estar a 80 requer atenção integral, nessa velocidade vence-se muitos metros em uns poucos segundos, o que faz com que obstáculos "cresçam" à nossa vista em muito pouco tempo. Não foi o caso. Fechei os olhos por coisa de dois ou três segundos. E quando dei por mim, estava no meio de um estrondo, penetrando na traseira de uma Saveiro parada na faixa de pedestres. A força da batida deixou a frente do celtinha igual sanfona, deixou o radiador como um fiapo de casca de laranja, trincou o vidro, despedaçou os faróis, e o mais sério, descolou os bancos do trilho - inclusive os de trás. Isso sim poderia ter acarretado em uma big fat merda.

O grande problema, meus caros, é que já há alguns meses não tenho conseguido dormir direito. Apesar de todos os meus esforços em prol da moderação, o excesso de leituras, computador e outros compromissos noturnos (se é que se pode ter excesso nisso) , combinada com a parada na atividade física - a tônica do ano de 2005 - desarrumaram meu relógio biológico pra valer. Para remediar isso adotei uma disciplina espartana, vorsprung durch technik: como não durmo com qualidade, atingindo os estágios profundos de descanso, tentava compensar na quantidade durante o dia, com um cochilo sagrado depois do almoço e "zerando" as dívidas de sono em no máximo dois dias. E apesar das nove horas diárias de sono bem contabilizadas, não consegui acertar o fuso. Só fui dormir bem mesmo na casa da minha mãe no Recife, nesses dez dias de recesso. Mas a merda já tava feita: meu distúrbio de sono já é tão prevalente que tornou-se um problema médico. Sem exagero nenhum. Vou ter que ir ao consultório fazer exames de sono, pra vocês terem uma idéia!

Essa semana no trabalho foi infernal justamente por conta disso. O acréscimo de tarefas não foi tão sério nessa primeira semana de janeiro quanto eu pensava, problema mesmo foi estar mal-disposto e com sono no meio do dia, justamente quando deveria estar mais alerta. Meu despertador, alto e chato, tornou-se tão crucial para a minha vida quanto inócuo: quando o sono é muito, ele é solenemente ignorado, cansa-se de tocar, isso quando não é desligado em mais uma ação semi-consciente (ou seria semi-dormindo?) de início de manhã. Na quinta, com atrasos se acumulando e como já prevendo que vinha merda no horizonte, conversei com meu chefe. Falei que ia tentar voltar a malhar e nadar em janeiro, e que talvez isso desse cabo de fazer meu ritmo circadiano voltar aos trilhos. Ele me disse: independente disso, vá ao médico e vá agora, porque ter uma dessas no trânsito pode ser fatal.

Por sorte não foi, mas poderia ter sido. E por isso estou escrevendo isso aqui no blog, pra tornar público mesmo. Quero que todos vocês, amigos do peito que se preocupam com meu bem-estar, exercitem sua chatice divina e me ajudem a adotar uma disciplina mais do que espartana, algo realmente não-terráqueo, para me fazer comer e dormir na hora certa. Sei que vou me arrepender disso num futuro próximo, afinal as restrições à minha liberdade de manobra são mais do que obvias, fora que isso vai ser desculpa pra muita coisa. Mas é melhor fazer esse pedido agora, enquanto estou assustado, para que as medidas racionais e estritas não se percam nas relativizações cotidianas. Com a vida da gente não dá pra relativizar, não há espaço pra erro, dois segundos podem significar o fim da linha, o ponto final da estória. E bem no meio da frase.

Passarei essa semana sem carro, e estarei bem ocupado esses dias resolvendo os trâmites de seguro, danos ao outro carro e BOs. Mas vou ao médico amanhã mesmo, pra tratar da mão e pra marcar com o doutor especialista do sono, ao qual nem sei o nome certo da especialidade, de tanto que tenho me preocupado com isso. Vaso ruim não quebra fácil, e sei que esse aqui vai levar muita queda antes de rachar. Mas o deal é esse mesmo: ou eu me cuido, ou não tem mais "eu" pra cuidar.

RAFA @ 02:55 tic-tac-tic-tac