:: Raridades ::
quinta-feira, março 02, 2006

Dearests,

Depois de mais de um mês sem escrever aqui, me dei conta que preciso mesmo é mudar o formato, a proposta, a linguagem dessa caceta toda. Com um mundão de coisas interessantes on-line, a internet está se tornando um espaço de linguagem curta, de síntese, dos trinta segundos. Não há tempo para ler muito, e muito menos para escrever muito. Não tenho publicado nada aqui porque não acho tempo pra sentar no PC e deixar fluir os pensamentos, e nem pra trabalhar o texto de forma decente e publicável.

Por isso resolvi apelar. O espaço aqui vai ficar exclusivamente para os textos maiores, as reflexões soltas. As pílulas de cotidiano, as curtinhas do dia-a-dia, vão ficar lá no fotológuisson. Sim, até eu me rendi à maior feira das vaidades da internet, point obrigatório dos colegiais da nata (será que deveríamos chamar de highschoolers?) munidos de câmeras digitais e desprovidos de espelhos. Mas não é porque o espaço está estigmatizado que a gente deixa de usar a parte boa, não é mesmo? Acho que o mesmo raciocínio vale pro Orkut.

Enfim, visitem-me no www.fotolog.com/elmagorafa

* * *

Às vezes páro pra reler o que eu escrevi aqui. E me surpreendo em ver como eu acabo achando ridículo algumas coisas que publiquei.

Tá certo que, se é pra manter registro, não faz sentido ficar apagando a parte ruim. Quem me conhece e já leu o Poema em Linha Reta do meu favorito Pessoa sabe que não tenho o menor medo de parecer ridículo, ou pelo menos tento seriamente não ter esse medo. Absolutamente todo mundo é ridículo de perto. Arre, estou farto de semideuses!

Mas minha autocrítica às vezes faz soar o alarme de clichê. E tenho me sentindo meio assim ultimamente, um clichê de mim mesmo. Vendo o que eu escrevo noto-me um cara previsível, emocional, que evita ser pedante mas acaba sendo confessional. Coisa de latinoamericano.

But again, todos nós somos clichês. Das duas uma: ou é nosso atestado mais comum de mediocridade, mas que revela o lado heróico do homem comum pagador de impostos, ou a maneira mais eficiente de escondermos o fato, no meio da multidão, de que somos vis no sentido mesquinho e infame da vileza, indesculpavelmente sujos. Não sei. Mas acho que há uma certa nobreza na primeira hipótese, uma coisa meio novela mexicana, de desenho japonês. É nessa que eu aposto. Porque eu sou otimista.

* * *

Estar em Recife no carnaval me mostrou o valor inestimável de ter o seu próprio espaço para ficar sozinho. Não ia me adaptar em um ambiente que eu não tivesse meus vinte minutos de me myself e eu mesmo. Coletivismo é para kibbutz. Pensando bem, até lá deve ter individualidade.

Recife também me mostrou que os netos de Severino e Iracema são madeira de lei que cumpim nao rói. É boa a cepa de meus pais. Aliás, ontem bateu saudades da velha Iracema. Quase me arrancou uma lágrima, a bendita. Olhei pro céu de começo de noite e tive certeza, ela está lá, sentada em sua cadeira de balanço, reclamando que está doente e querendo comer doce. Com aquele sorriso que só ela sabia fazer. E sabe.

* * *

Estou no tempo certo, mas talvez não do lado certo. E por "lado" não incluo minhas convicções. Digo aqueles que me cercam mais cotidianamente. Tem gente que deveria estar perto, mas que deve me achar um chato - e by the way, eu acho elas muito chatas também. Mas parando pra pensar, racionalmente falando, deveriam mesmo estar na mesma trincheira. Deve ser coisa das leis da física, semelhantes se repelem.

* * *

Mais do Recife: A juventude é mesmo algo lindo. Não aprovo os pedófilos, mas já os entendo. E o manguebit do Chico Science & Nação Zumbi foi a melhor coisa que aconteceu na música brasileira nos últimos 15 anos. Pronto falei. sem vergonha de ser bairrista.

* * * * * * *

RAFA @ 13:29 tic-tac-tic-tac