O grande amigo e estagiário Galileu deu a dica, e eu repasso: nesse sáite, o MilVinil, a gente encontra uma coleção enorme de discos de vinil, a grande maioria de títulos que só foram lançados nos velhos bolachões pretos. O (mais) legal é que é 100% legal, nada da so-called "pirataria" do compartilhamento das músicas em P2P. Aliás, grossas aspas nesse pirataria, que eu creio piamente que a música é uma arte performática, e que por isso mesmo esse beiço todo que as gravadoras fazem é totalmente infundado do ponto de vista jurídico e da filosofia da arte.
O sáite é muito legal, tem coisas ótimas, e vale a pena prestigiar o trabalho do rapaz. Mas, como nada é perfeito, digo aqui o meu porém: pra mim ficou claro que a preferência musical do dono do site tem um viés político subjacente ao gosto artístico - ou seria o contrário, hem? De qualquer forma, notei que muitos os discos elencados tem aquele arzinho de só-acho-bom-porque-é-música-contra-a-ditadura, aquela estética vermelhinha de vamos-para-cuba e viva-la-revolución. Que fique claro que as músicas não deixam de ter valor por serem de protesto, nem o autor do site tem mau gosto só por publicá-las. Mas eu não gosto da Beth Carvalho e do Zeca Pagodinho só porque eles são botafoguenses, entendem? Ainda bem que tinha um disco do Wilson Simonal lá. Senão já ia achar que o cara era filiado ao PC do B e ao MR-8.
Vou falar de algumas pérolas que achei por lá. Primeiro, um disco só de gente boa recitando Pessoa:
Novos Baianos, sempre novíssimos:
O famoso disco do Tom Zé, e sua fantástica capa. Adoiro. No site eles dão a estória do making of (ou seria making love?) da foto.
Esse do Belchior é dugaráio. Simplesmente adoro esse disco, principalmente a faixa-título, apesar de sempre achar que as músicas do Belchior ficam sempre melhores nas vozes de outras pessoas que não o Belchior.
Pra finalizar, esse crássico. Tim Maia na sua fase doidão-mas-clean-das-drogas. Pra mim uma das melhores manifestações do soul brasileiro, não por acaso retrazido à tona pelo Cidade de Deus. Homenagem à amiguinha Geisa, que tá de mala pronta pra Barcelona e que me introduziu a esse disco, lá em Porto Alegre, em algum lugar de um passado distante.
* * *
Falando em Porto Alegre, comprei esse livro aí do Moacyr Scliar - um dos meus escritores favoritos - pra entender um pouco mais sobre a melancolia. Já estava namorando esse livro faz tempo, e inclusive já tinha lido bons pedaços dele na internet e nas Sicilianos da vida.
No resumo do resumo, esse livro é um grande ensaio sobre a história da melancolia no Brasil, como chegou com a "saudade" dos portugueses e com o banzo dos escravos, e como se desenvolveu, do samba de roda à melancolia da solidão sertaneja. Tô achando fantástico.
Só depois de sair da livraria é que fui me dar conta de um absurdo: passei quase um ano inteiro sem comprar livros for leisure. É, acho que algo andou muito errado mesmo em 2006...
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Depois de um sábado de muita Absolut, dediquei um domingo inteiro ao consumo de arte - música, mais especificamente. Primeiro, tocando uma viola com Pedro e Karina por algumas horas, depois revendo (e revivendo) um pouco da minha história musical. O que eu ouvia no segundo grau, na época das primeiras bandinhas, na faculdade. Como sempre, é muito legal ver as coisas em perspectiva, ainda mais quando a "coisa" em questão é você mesmo.
Cheguei à conclusão que não tenho coragem de dizer qual é a minha banda número 1, a favorita, a best-of-all-time, mas se tivesse, acho que seria mesmo o Blur. Revi vários clipes deles no YouTube esses dias, desde os felizinhos Parklife (com os monólogos cockneys do Phil Daniels, o astro de Quadrophenia), e Coffee & TV (o da caixinha de leite simpática), aos mais referenciados em termos culturais: o nouvelle vague francês de To the End (uma referência a Marienbad, como a Karina bem apontou), o experimento de sono de No Distance Left to Run (o mais denso de todos, principalmente com as declarações do Damon Albarn sobre a música no final), a minha sempre favorita The Universal- com uma homenagem ao Laranja Mecânica do Kubrick, atenção para o beijo no último milissegundo, e para o fraseado dos violinos no final, simplesmente fantástico - e as versões ao vivo de Jubilee na MTV e de This is a Low no VH1, numa versão com áudio e vídeo péssimos, mas que valem pela raridade. Aliás, a música é perfeita para curtir a fossa bêbado, realmente te faz voar.
Brasileiro da gema, viajante do mundo por natureza. Sagitariano cuspido e escarrado, com ascendente em Aquário, seja lá o que isso for. Odeia
sopas e caldos mais do que tudo no mundo, seguido de perto por cinismo. Nascido na Ilha do Leite, na cidade do Recife, criado na Urca e em muitos quartéis Brasil afora, foi enrolado por sua mãe na bandeira do Sport quando nasceu, mas ama mesmo é o glorioso Botafogo de Futebol e Regatas. Afinal, amor que é amor tem que doer, e torcer pra time que só ganha é chato demais.
Gosta de sentir a brisa da praia no rosto, do bobó de camarão de Dona Susana, e de frutos do mar em geral. Seus tempos de Colégio Militar no Rio
o fizeram um cavalariano orgulhoso, mas um péssimo cavaleiro: ainda hoje insiste em querer montar pelo lado direito. Indie desde pequeninho, é mestre em gostar de bandas que ninguém nunca ouviu falar. Em razão do seu amor pelo róquenrou, tenta sem sucesso tocar instrumentos de cordas - violão, baixo, guitarra - mas sua incompetência não o deixa passar do meia-boca. Moço com grandes
dotes culinários (só não morreu de inanição ainda por sua criatividade na cozinha), amante da boa-mesa - e de "forks" in the table - já até sentiu o sabor das nuvens. Com oito anos decidiu ser piloto de caça depois de ter visto Top Gun no cinema - desistiu aos 16 quando se deu conta que a Marinha não tinha caças e que milico ganha mal que só a porra. Hoje, graduado em Relações Internacionais pela UnB e mestrando em Comunicação na mesma, estuda para passar no Rio Branco, só porque
gostou do cafezinho da Embaixada em Londres.
Viciado em chocolate por falta crônica de sexo, vive dizendo que um alfajor de chocolate Havanna é quase tão bom quanto uma
noitada com a Luana Piovani ou com a Jennifer Connoly. Eco-chato assumido, descobriu-se idealista depois de velho - dizem as más línguas que foi depois
de ter finalmente entendido Kant, aquele mesmo que ele próprio passou a vida inteira malhando. Reza a lenda que seu idealismo
é tão agudo que nunca vai deixar de acreditar em Papai Noel e na ONU. É um dos maiores acadêmicos de seu tempo, com 1,90m de
altura, por isso mesmo preferindo as altas: "baixinha dá uma puta dor nas costas" reclama. Don Juan totalmente às avessas, "bigode" assumido, não tem muita afeição por gatos, a marxistas e a torcedores do Flamengo. Recebeu orgulhamente o diploma de cidadão
honorário de Entre-Ijuís/RS, e já vislumbra o Nobel da Paz. Toma chimarrão regularmente, para curar bebedeira e manter a tradição. Sangue O positivo com muita testosterona, sofre de insônia, alergia a pó e falta de simancol. Escreve esse blog
porque adora fazer uma graça - só não percebeu que a maior graça na vida dele é ser ele próprio.
*idiossincrasia (id). [Do grego idiossynkrasía: ídios, próprio + sykrasis, constituição, temperamento] S. f. 1. Disposição do temperamento do indivíduo, que o faz reagir de maneira muito pessoal à ação dos agentes externos. 2. Maneira de ver, sentir, reagir, própria de cada pessoa. 3. Med. Sensibilidade anormal, peculiar a um indivíduo, a uma droga, proteína ou outro agente.
Porque "Raridades & Idiossincrasias"? Não sei bem ao certo. Achei um título legal when it came out. Um título quase conceitual, eu diria.
Sobre as "idiossincrasias", eu uso essa palavra sempre, mesmo soando meio intelectualóide demais pro meu gosto. No entanto, eu normalmente a uso com um sentido um pouco diferente do restrito léxico dos dicionários. Pra mim, essa "maneira de ver, sentir, reagir" se percebe nas menores coisas, aquele tipo de detalhe inerente à sua personalidade que nem mesmo as pessoas que melhor te conhecem poderiam notar. Aquelas pequenas manias, tipo Amélie Poulain, como fazer pedrinhas ricochetearem no canal ou enfiar a m?o num saco de tremoço (aliás, enfiar a mão num saco de qualquer cereal é fantástico!). Detalhes pequenos, mas muito importantes. Vitais!
Essa é a idéia. Registrar estas pequenas raridades do dia-a-dia. Ou também as raridades que parecem grandes, mas que no final são igualmente pequenas. Isso faz parte do meu esforço de perceber a realidade ao redor com olhos mais clínicos, para poder enxergar a beleza dessas coisas. A manteiga derretendo no pãozinho quente, o cheiro fresco de grama molhada de chuva, essas coisas...