:: Raridades ::
quarta-feira, janeiro 10, 2007


Auto-indulgência da semana: Mostarda Dijon.

Deve ter sido sobra de Natal. Estava baratíssimo. E foi essa aí mesmo, Maille. Das boas, dizem. Comprei um potão, pra meses e meses.

Pronto. Sem mais auto-presentes pelo resto da semana. Ou do mês, sei lá.

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Primeiras Leituras


Incluí o blog do Reinaldo Azevedo nos links Sharp Cuca. Às vezes o acho demasiado cáustico, mas não deixo de concordar com quase tudo o que ele diz. Aliás, que saudades da Primeira Leitura... fiquei triste com o fechamento dela, ano passado. Era leitor assíduo.

Pra facilitar a vida dos interessados, Clique akê

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Vespúcia

Programão de domingo num janeiro cinza de Brasília vazia é ver TV. Um dos quadros do Fantástico desse domingo foi uma entrevista com Ariano Suassuna, desde sua casa na Rua do Chacon - na minha Casa Forte - com o conterrâneo Geneton Moraes Neto. Não posso furtar-me em comentar que o mestre, como comentarista político, é um ótimo escritor.

Não, não é birra minha por ele ter apoiado o PT na eleição. Se tivesse birra, nunca mais voltava pra minha terra, celeiro histórico de vermelhos. Mas é que um dos motes principais da entrevista era questionar o mestre qual era o maior monumento ao mau-gosto no Brasil. Respondeu ele: a réplica da Estátua da Liberdade, naquele shopping na Barra da Tijuca.

Concordo. Aquilo é um disparate. Só poderia estar mesmo em um bairro conhecido por seus condomínios fechados e sua gente deslumbradinha, nouveau-riches jiujiteiros e aspiradores de pó. Minha discordância começa com a complementação da resposta: "aliás, não gosto nem da original".

Peralá, grande Ariano. A original é linda. Simboliza talvez o ideal mais comum à consciência humana desde que saímos das cavernas. Em seu pedestal, o poema que se lê é de arrepiar: "Give me your tired, your poor, your huddled masses yearning to breathe free", é o que diz a colossal Liberdade iluminando o mundo. É de se imaginar as hordas de pobres imigrantes vindos dos sete mares a chegar, fugidas, cansadas, rotas, em Ellis Island e daí partir para formar a potência - bem ou mal, potência - que conhecemos como Estados Unidos da América. Tudo por uma promessa de liberdade, bem ou mal, cumprida.


Mas entendo a natureza da fala do mestra Ariano. Há um anti-americanismo velado no seio de nossa intelligentsia, desde muito tempo. A intelectualidade brasileira sempre foi um tanto francófila - vide Chico Buarque em seu apartamento em Paris - e sabemos bem como os franceses enxergam os americanos, não? Acabamos herdando isso, muitas décadas atrás. Mas hoje a matriz é outra. É um anti-americanismo estúpido, apoiado na tradição e perpetuado por um pseudo-projeto de inserção global que nem de longe corresponde à nossa realidade.

Me digam: porque tudo o que vem os Estados Unidos é necessariamente ruim? Entendo que eles não são lá os supra-sumos da sofisticação, mas vejo muitos méritos neles, senão não haveriam de ter o status hegemônico de hoje.

Não sou um anti-americano. Admiro os distantes vizinhos do norte, ao mesmo tempo que os critico. E ao contrário de muitos patrícios brasileiros, meu nacionalismo não depende de contrastes nem de inimigos externos. Sou convicto que ser brasileiro é muito bom, independente do fato de ser americano, ou de qualquer outra nacionalidade, seja algo bom ou ruim.

Mas a auto-definição "american" pode ser misleading. E reconheço: eles se apropriaram do termo América de maneira muito mais competente que nós. Não entro nas babaquices de chamá-los de "estadunidenses", pelo simples fato de que é feio defini-los simplesmente por seu sistema político federativo. São americanos, portanto. Se são norte-americanos ou simplesmente americanos, depende da semântica.

Mas não há como negar, somos diferentes demais para nos proclamar um continente só. Sustento que abaixo do Canal do Panamá a coisa é diferente. Ora, se Suez divide uma mesma massa de terra entre África e Ásia, porque haveríamos de ser norte e sul? Já não há continuidade de terras mesmo...

Se Colombo descobriu a América, cabe a nós reinventá-la. Proponho que chamemos de Vespúcia a nossa banda. A idéia não é nova, acho que foi o Veríssimo que a teve primeiro, mas pode ter sido só um textos que atribuem a ele na internet.

Afinal, bem ou mal, gostando ou não, somos diferentes. América para os americanos, pode ser. Mas deixem-nos em paz em nosso quintal.

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RAFA @ 18:24 tic-tac-tic-tac