:: Raridades ::
quarta-feira, janeiro 31, 2007

Bolacha Negresco

O grande amigo e estagiário Galileu deu a dica, e eu repasso: nesse sáite, o MilVinil, a gente encontra uma coleção enorme de discos de vinil, a grande maioria de títulos que só foram lançados nos velhos bolachões pretos. O (mais) legal é que é 100% legal, nada da so-called "pirataria" do compartilhamento das músicas em P2P. Aliás, grossas aspas nesse pirataria, que eu creio piamente que a música é uma arte performática, e que por isso mesmo esse beiço todo que as gravadoras fazem é totalmente infundado do ponto de vista jurídico e da filosofia da arte.

O sáite é muito legal, tem coisas ótimas, e vale a pena prestigiar o trabalho do rapaz. Mas, como nada é perfeito, digo aqui o meu porém: pra mim ficou claro que a preferência musical do dono do site tem um viés político subjacente ao gosto artístico - ou seria o contrário, hem? De qualquer forma, notei que muitos os discos elencados tem aquele arzinho de só-acho-bom-porque-é-música-contra-a-ditadura, aquela estética vermelhinha de vamos-para-cuba e viva-la-revolución. Que fique claro que as músicas não deixam de ter valor por serem de protesto, nem o autor do site tem mau gosto só por publicá-las. Mas eu não gosto da Beth Carvalho e do Zeca Pagodinho só porque eles são botafoguenses, entendem? Ainda bem que tinha um disco do Wilson Simonal lá. Senão já ia achar que o cara era filiado ao PC do B e ao MR-8.

Vou falar de algumas pérolas que achei por lá. Primeiro, um disco só de gente boa recitando Pessoa:



Novos Baianos, sempre novíssimos:



O famoso disco do Tom Zé, e sua fantástica capa. Adoiro. No site eles dão a estória do making of (ou seria making love?) da foto.



Esse do Belchior é dugaráio. Simplesmente adoro esse disco, principalmente a faixa-título, apesar de sempre achar que as músicas do Belchior ficam sempre melhores nas vozes de outras pessoas que não o Belchior.



Pra finalizar, esse crássico. Tim Maia na sua fase doidão-mas-clean-das-drogas. Pra mim uma das melhores manifestações do soul brasileiro, não por acaso retrazido à tona pelo Cidade de Deus. Homenagem à amiguinha Geisa, que tá de mala pronta pra Barcelona e que me introduziu a esse disco, lá em Porto Alegre, em algum lugar de um passado distante.



* * *

Falando em Porto Alegre, comprei esse livro aí do Moacyr Scliar - um dos meus escritores favoritos - pra entender um pouco mais sobre a melancolia. Já estava namorando esse livro faz tempo, e inclusive já tinha lido bons pedaços dele na internet e nas Sicilianos da vida.

No resumo do resumo, esse livro é um grande ensaio sobre a história da melancolia no Brasil, como chegou com a "saudade" dos portugueses e com o banzo dos escravos, e como se desenvolveu, do samba de roda à melancolia da solidão sertaneja. Tô achando fantástico.

Só depois de sair da livraria é que fui me dar conta de um absurdo: passei quase um ano inteiro sem comprar livros for leisure. É, acho que algo andou muito errado mesmo em 2006...



* * *

RAFA @ 16:54 tic-tac-tic-tac