:: Raridades ::
segunda-feira, janeiro 29, 2007

Os Embaçados

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Depois de um sábado de muita Absolut, dediquei um domingo inteiro ao consumo de arte - música, mais especificamente. Primeiro, tocando uma viola com Pedro e Karina por algumas horas, depois revendo (e revivendo) um pouco da minha história musical. O que eu ouvia no segundo grau, na época das primeiras bandinhas, na faculdade. Como sempre, é muito legal ver as coisas em perspectiva, ainda mais quando a "coisa" em questão é você mesmo.

Cheguei à conclusão que não tenho coragem de dizer qual é a minha banda número 1, a favorita, a best-of-all-time, mas se tivesse, acho que seria mesmo o Blur. Revi vários clipes deles no YouTube esses dias, desde os felizinhos Parklife (com os monólogos cockneys do Phil Daniels, o astro de Quadrophenia), e Coffee & TV (o da caixinha de leite simpática), aos mais referenciados em termos culturais: o nouvelle vague francês de To the End (uma referência a Marienbad, como a Karina bem apontou), o experimento de sono de No Distance Left to Run (o mais denso de todos, principalmente com as declarações do Damon Albarn sobre a música no final), a minha sempre favorita The Universal- com uma homenagem ao Laranja Mecânica do Kubrick, atenção para o beijo no último milissegundo, e para o fraseado dos violinos no final, simplesmente fantástico - e as versões ao vivo de Jubilee na MTV e de This is a Low no VH1, numa versão com áudio e vídeo péssimos, mas que valem pela raridade. Aliás, a música é perfeita para curtir a fossa bêbado, realmente te faz voar.



Mas a escolhida para ser publicada aqui é a Beetlebum aí em cima, pra resumir esse post linkado e o meu estado de espírito. Essa faixa faz dez anos agora em 2007, o que é emblemático pra mim pelo aniversário de formatura no colégio. Letra, música e clipe são simplórios, esquema quarteto-de-rock, mas os tempos e compassos são usados de forma muito criativa. É ótima pra viajar e pensar na morte da bezerra fumando um cigarritcho, principalmente o vôo no minuto final. Pouca gente sabe, mas a música é sobre a Justine Frischmann, do Elastica, na época namorada do Damon Albarn. Os dois eram um tipo de casal perfeito, ambos artistas multimídia e criativíssimos, cheio de colaborações e projetos em comum; perfeitos não fossem os vícios da Justine em álcool e heroína (o "just get numb" na música), e a vulnerabilidade de homem pós-sexo-mentiras-e-videotape do Damon (o "when she lets me slip away/nothing is wrong" da letra).

O rompimento dos dois em 98 deu um disco ao Blur, Thirteen de 99, o mais rasgadamente soturno e romântico. Um disco que eu não entendia bem até recentemente, justamente por ser tão complexo e pessoal. O "13" é o inferno lírico do Damon, o retrato da deprê e da confrontação dele com seus fantasmas pessoais. É esse o "the ghost I love the most" de Tender, outra música ridiculamente simples, mas que diz muito com pouco. Não há dúvidas que um foi o amor da vida do outro, apesar do Damon hoje estar bem-casado com uma artista plástica e cuidando de sua baby girl.

Pra resumir, adoro o Blur. Pelas músicas com referências culturais e idéias elaboradas, e pelas melodias oníricas, que lembram o voar e o sonhar. Adoro a versatilidade da guitarra do Graham Coxon, ele realmente toca de tudo, e tem um estilão nerd nos óculos que é inconfundível - e inclusive bem zoado nos óculos do "pai" no clipe de Coffee & TV. Gosto das caretas e da voz do Damon, apesar de achar que ele desafina às vezes. Enfim, é a minha referência número 1, mas não a única, obviamente. Passear por essas músicas e clipes é passear pela minha vida nos últimos dez ou quinze anos. Pra quem vai pegar esse bonde, boa viagem!

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Três músicas têm me seguido na balada. Minhas pernas já tão quase entrando no automático quando as ouve.
Marcelinho da Lua - Tranquilo
David Guetta - Love don't let me go
Scissor Sisters - I don't feel like dancing

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RAFA @ 21:07 tic-tac-tic-tac