:: Raridades ::
quinta-feira, março 29, 2007

Tcherenzig



Om mani peme hung...

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RAFA @ 18:07 tic-tac-tic-tac

segunda-feira, março 26, 2007

Papo Reto

Palavras, palavras, palavras. Quer saber? Acho lindo essa coisa de quem escreve bonito, usa e abusa das metáforas, simbolismos e alegorias. Aquela coisa de usar combinações de palavras totalmente incomuns, únicas, fazer links e rizomas com idéias distantes. Acho lindo, mas não é pra mim não.

Acredito que isso seja um sinal da minha limitação intelectual. Eu sei, sou meio burrinho e pouco criativo para tirar essas palavras tão lindas da cartola. Eu devo mesmo ser bem mais medíocre do que eu já acho que sou. E acho mais engraçado como as mentes pequenas - a minha incluída - se embasbacam com quem fala difícil. Dá um ar de superioridade, né? Algo blasé. Quem se atreve a contestar o filósofo da Sorbonne, que sorve seu café no Les Deux Magots entre uma e outra idéia genial?

É sempre dificílimo ser interlocutor de alguém assim, beletrista. Parece que todas as mensagens são cifradas. Para entender, é quase necessário ser iniciado em uma cerimônia pagã com sacrifício de virgens, ou ter passado por um exclusivíssimo curso de literatura moderna no St Martins College - lembrando sempre que as coisas e lugares chiques são exclusivas justamente porque excluem gente.

É no mínimo engraçado: usa-se a linguagem cifrada para restringir o entendimento no grupinho, mas embaralha-se tanto a mensagem que abre-se a possibilidade de múltiplas e personalíssimas interpretações. Eis aí a comunicação perfeita, um que fala o que quer como quer, e outro que entende como lhe convém. É a clareza absoluta na transmissão da mensagem. Sem ruído whatsoever.

Mas eu sou meio bronco mesmo. Sou daqueles pré-modernos, que acredita que a sofisticação tem que vir das idéias, e não da forma. Daqueles que prefere Hemingway a Faulkner, que prefere Darcy Ribeiro aos parnasianos. Daqueles que insistem nessa mania antiquada de tentar ser preciso na comunicação, que gosta dessa coisa feia que é a clareza. Sou daqueles que acha que uma digressão aqui outra ali é gostosa, mas que é fácil errar a mão na medida desse tempero.

Sabe, já é tão difícil fazer uma pessoa parar e ler uma palavra escrita que não seja um drops rápido de internet... a mensagem que precisa de mais do que algumas linhas para ser passada por completo precisa de fluxo, indo em uma só direção, não de metáforas esparramadas vazando pra todo canto. O excesso delas convida o leitor à divagação, quase sempre com sucesso.

No fim, sei que toda interpretação é personalíssima. Mas comunicar é comungar, requer abertura, proximidade, troca. Digitar no tecladinho sua trip na Mayonnaise Airlines é fácil, mas é ser dadaísta querendo ser erudito. Reconheço, tem gente que escreve assim e faz arte, é poeta. Mas há muito gato e pouca lebre por aí. Os que tenho visto recentemente são farsas, nada mais.

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RAFA @ 17:38 tic-tac-tic-tac

quinta-feira, março 15, 2007

ON A DAY LIKE TODAY

Shakespeare já avisava: Beware the ides of march. O décimo quinto dia do terceiro mês do calendário romano traz em si um agouro milenar e ainda inexplicável. Em 44 a.C., deu-se cabo a conspiração que assassinou o imperador Júlio César. E, exatos 17 anos atrás, nos idos de março de 1990, um jovem tirano brasileiro dava cabo à uma grande conspiração contra o povo do meu país.

Por decreto, o tal tirano mandava confiscar, de toda gente brasileira, todas as suadas economias, saldos bancários, ou quaisquer outros bens percebidos financeiramente que superassem a marca de 50 mil cruzeiros - algo em torno de mil reais, em valores de 2007. Na melhor das hipóteses, era uma medida extremíssima, um ato que desafiava a lógica de séculos de conhecimento econômico acumulado pela humanidade, para conter o demônio inflacionário que fez o Brasil perder toda a década de 80. Na pior - que penso eu, acabou por confirmar-se - foi o maior ato de roubo já aplicado nos cinco séculos de Brasil.

Se esse ato não fosse condenável pela extrema canalhice dolosa - demonstrada tempos depois - o seria do ponto de vista econômico e filosófico. Não sou economista, mas de uma coisa eu entendo: a inflação não é um problema de base monetária, e sim de seu fluxo. Portanto, o efeito de retirar recursos do mercado, mesmo em absurda quantidade, seria mínimo sobre as causas da inflação. Mas de que serve o conhecimento contra o voluntarismo hormonal adolescente?

Os efeitos sobre a sociedade foram indizíveis. Na minha casa eles foram significativos, e só sobrevivemos bem a eles porque nossa estrutura familiar era (e é) sólida como rocha. Lembro-me que tinha dez anos, meu pai havia acabado de ganhar uma justa indenização por uma de suas transferências, e ia quitar o apartamento que tinha comprado em 82. Acabou tendo que vender um carro para pagar as contas e as dívidas da mudança não-indenizada. Por todo lado se ouvia sobre divórcios, suicídios, brigas de toda a espécie, fome, todas precipitadas por uma precipitação de um governante e seus asseclas.

Aliás, os asseclas foram poupados da penúria, e aí está a raiz da canalhice. Todos foram devidamente avisados para sacar seus ativos antes do dia fatídico. E como em terra de cego que tem um olho é rei, todos eles ganharam poderes extraordinários da noite para o dia, pelo mero fato de terem dinheiro no bolso. Seriam a elite que defenderia o novo sistema da "renovação nacional", os escolhidos, o que chegava a ser uma honra. Lembro-me de uma colega que certa feita, numa festa, chegou a vangloriar-se do fato de que sua mãe, alta funcionária do Banco do Brasil, havia sido avisada e escapado ilesa ao turbilhão. Perdi totalmente a cabeça por uns trinta segundos, talvez um pouco mais. Disse-a algumas boas. Como acho que ela é de boa índole, deve lembrar das minhas palavras até hoje.

O plano aparentava ter dado certo, a inflação foi debelada por alguns meses, mas na verdade eram só os efeitos do choque. Focou no sintoma e esqueceu-se da causa. Como disse o Simonsen, era um remédio para febre que matava o paciente: com o paciente morto, não há mais febre, certo? O Congresso, subjugado, dava legitimidade jurídica aos atos. O PIB encolheu 12% em um ano, e a inflação voltou depressa e com mais voracidade. Em 92 a brincadeira acabou, e Collor foi defenestrado por uma conspiração parlamentar ajudada pelo clamor do povo nas ruas e dos meios de comunicação, que já não aguentavam mais tanto voluntarismo. Mas vários estragos já tinham sido feitos, alguns deles irreversíveis...

Hoje, nossos juros altos denunciam um país de caloteiros, um país que há 17 anos via seu povo ser assaltado por seu próprio governo. O mesmo Collor é senador, e seus asseclas vivem bem e em paz. Mas se tanto sofrimento não serviu de nada, é útil para mostrar a pessoas como eu que há limites para a ação do Estado em nome da coletividade, que a verdadeira coragem não é nada hormonal, e que atos inpensados quase sempre têm consequências nefastas para todos.

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RAFA @ 12:56 tic-tac-tic-tac

terça-feira, março 13, 2007

SAUDADE



Ontem o Recife celebrou 470 anos de fundação. Não os 47 de Brasília, essa cidade que hoje me serve de lar, mas exatas dez vezes mais. Dez!

Não há muito o que dizer ou sentir. A saudade, essa sina de todo lusófono, faz os pêlos dos braços arrepiarem e encherem os olhos daquilo que foi e daquilo que é.

Reli a Evocação de Bandeira, no blog do Noblat. Veneza, Mauritstaad, Mascates. Guararapes, Frei Caneca, a Confederação do Equador, a luta pela liberdade humana em toda a sua diversidade. Minha evocação também traz roletes de cana e amendoim "cozinhado" , mas traz também pitomba, jambo e raspo-raspo, Pau Amarelo, rodas de violão com o pessoal da praia, música lenta pra abraçar as meninas nas festinhas... mamãe comendo caranguejo, meu avô de chapéu de feltro cinza chegando em seu Del Rey. Era o ônibus até a Caxangá, passando pela Várzea, Dois Irmãos, Apipucos... até eu chegar na Rua Ambrosina Carneiro era um tempão. Os pregões do mercado de Casa Amarela, essa língua certa do povo, que torna delicioso o português do Brasil.

Tenho que voltar ao trabalho. Mas a saideira é aquele frevo-canção, que eu já esqueci o nome:

É lindo ver, o dia amanhecer
Com violões e pastorinhas mil
Dizendo bem
Que o Recife tem
O carnaval melhor do meu Brasil

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RAFA @ 09:41 tic-tac-tic-tac

quinta-feira, março 08, 2007

MULHER



A verdadeira revolução feminina ainda está por ocorrer. O que aconteceu nos anos sessenta, se não foi uma completa farsa, foi uma mera adequação de regras. Foi o sistema se redesenhando, para evitar a ascensão de uma força que poderia acabá-lo. E essa força é a mulher. Não a mulher-construída de Beauvoir, mas a mulher-essencial, antropológica, prímiva.

Tenho noção da gravidade do que falo, e apenas o digo por ser um homem absolutamente feminista. E só sendo homem para perceber o quanto a nossa civilização é fundada na testosterona. Sim sim, acho mesmo que a quintessência da sociedade, a base de tudo, é uma substância química, um esteróide androgênico. É a testosterona na iniciativa, do deixa-comigo, da força muscular, do tesão, mas também da agressividade e do instinto destrutivo. E nada mais masculino do que o capitalismo: ele simplesmente não existiria sem a iniciativa e o correr-atrás da testosterona - e nem as guerras, tão "necessárias" (grossas aspas) para renovar o sistema de quando em quando. E esse é o mundo: por um lado, avanços tecnológicos e crescimento, por outro, guerras e degradação do meio ambiente. Esse é o mundo da testosterona.

As próprias mulheres ainda não entenderam a natureza de sua própria força. O poder feminino existe, é tão grande quanto o seu complementar masculino, e se fosse usado como deveria, as mulheres de fato ganhariam os mesmos salários e seriam tão valorizadas quanto os homens. E o que ocorre? Em vez de olhar para dentro e descobrir a fêmea prímiva - que há dentro de todo ser humano, XX ou XY - a mulher volta-se para fora e imita o mundo masculino que a oprime. Usa calça jeans, cabelo curto, e principalmente, toma para si o comportamento e as mesmas atitudes de opressão, agressividade, promiscuidade e infidelidade de seus algozes. Não há nada de errado no jeans e no cabelo curto por si, e há um quê de contestação adolescente nisso que é bonita de alguma forma. Mas eles são símbolos de inconsciente coletivo que (ainda) valoriza mais a testosterona, e que portanto é desequilibrado na balança do Yin-Yang. Por exemplo, o que é desenvolvimento sustentável? Nada mais é do que dar freios à iniciativa do capitalismo yang com o controle ambiental yin.

O verdadeiro poder da fêmea está nas saias, nas cores, no cabelo grande e vistoso e no batom. Está na ternura da voz e da pele, na "fragilidade" (aspas mais grossas) do choro. Está na grande força do gerar e ver crescer nas suas entranhas uma nova vida, e alimentá-la do seu próprio corpo - e como diria minha mãe, de dedicadamente alimentar a cria por anos a fio depois do peito. Está na na beleza dos seios e dos quadris largos, que não possuem outra "utilidade" do que gerar e alimentar, mas que revelam a mulher humana como o mais sofisticado fruto da evolução das espécies pelo alto grau de complexidade biológica e psicológica envolvida em suas atividades. Sim, digo sem medo de errar: a mulher é a epítome da obra de Deus nesse planeta, e considero-me sortudo de poder apreciar essa beleza plenamente.

Parabéns às mulheres por esse dia, símbolo de uma luta que haverá de ser travada por anos nos corações de mentes de todos os seres humanos, regardless of gender. Tenho a convicção que viveríamos em um mundo mais justo, belo e limpo se as mulheres descobrissem, de uma vez por todas, o grande poder que há na fêmea dentro delas.

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Ui! A Mona Lisa do Marcel Duchamp está quente em um certo lugar. Serão los bigotes? Clique na imagem para ampliar. E quem não entendeu a piada na obra de arte, leia as letras da legenda em francês. Élle achô ô...

RAFA @ 11:18 tic-tac-tic-tac