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quinta-feira, março 15, 2007
ON A DAY LIKE TODAY![]() Por decreto, o tal tirano mandava confiscar, de toda gente brasileira, todas as suadas economias, saldos bancários, ou quaisquer outros bens percebidos financeiramente que superassem a marca de 50 mil cruzeiros - algo em torno de mil reais, em valores de 2007. Na melhor das hipóteses, era uma medida extremíssima, um ato que desafiava a lógica de séculos de conhecimento econômico acumulado pela humanidade, para conter o demônio inflacionário que fez o Brasil perder toda a década de 80. Na pior - que penso eu, acabou por confirmar-se - foi o maior ato de roubo já aplicado nos cinco séculos de Brasil. Se esse ato não fosse condenável pela extrema canalhice dolosa - demonstrada tempos depois - o seria do ponto de vista econômico e filosófico. Não sou economista, mas de uma coisa eu entendo: a inflação não é um problema de base monetária, e sim de seu fluxo. Portanto, o efeito de retirar recursos do mercado, mesmo em absurda quantidade, seria mínimo sobre as causas da inflação. Mas de que serve o conhecimento contra o voluntarismo hormonal adolescente? Os efeitos sobre a sociedade foram indizíveis. Na minha casa eles foram significativos, e só sobrevivemos bem a eles porque nossa estrutura familiar era (e é) sólida como rocha. Lembro-me que tinha dez anos, meu pai havia acabado de ganhar uma justa indenização por uma de suas transferências, e ia quitar o apartamento que tinha comprado em 82. Acabou tendo que vender um carro para pagar as contas e as dívidas da mudança não-indenizada. Por todo lado se ouvia sobre divórcios, suicídios, brigas de toda a espécie, fome, todas precipitadas por uma precipitação de um governante e seus asseclas. Aliás, os asseclas foram poupados da penúria, e aí está a raiz da canalhice. Todos foram devidamente avisados para sacar seus ativos antes do dia fatídico. E como em terra de cego que tem um olho é rei, todos eles ganharam poderes extraordinários da noite para o dia, pelo mero fato de terem dinheiro no bolso. Seriam a elite que defenderia o novo sistema da "renovação nacional", os escolhidos, o que chegava a ser uma honra. Lembro-me de uma colega que certa feita, numa festa, chegou a vangloriar-se do fato de que sua mãe, alta funcionária do Banco do Brasil, havia sido avisada e escapado ilesa ao turbilhão. Perdi totalmente a cabeça por uns trinta segundos, talvez um pouco mais. Disse-a algumas boas. Como acho que ela é de boa índole, deve lembrar das minhas palavras até hoje. O plano aparentava ter dado certo, a inflação foi debelada por alguns meses, mas na verdade eram só os efeitos do choque. Focou no sintoma e esqueceu-se da causa. Como disse o Simonsen, era um remédio para febre que matava o paciente: com o paciente morto, não há mais febre, certo? O Congresso, subjugado, dava legitimidade jurídica aos atos. O PIB encolheu 12% em um ano, e a inflação voltou depressa e com mais voracidade. Em 92 a brincadeira acabou, e Collor foi defenestrado por uma conspiração parlamentar ajudada pelo clamor do povo nas ruas e dos meios de comunicação, que já não aguentavam mais tanto voluntarismo. Mas vários estragos já tinham sido feitos, alguns deles irreversíveis... Hoje, nossos juros altos denunciam um país de caloteiros, um país que há 17 anos via seu povo ser assaltado por seu próprio governo. O mesmo Collor é senador, e seus asseclas vivem bem e em paz. Mas se tanto sofrimento não serviu de nada, é útil para mostrar a pessoas como eu que há limites para a ação do Estado em nome da coletividade, que a verdadeira coragem não é nada hormonal, e que atos inpensados quase sempre têm consequências nefastas para todos. * * * RAFA @ 12:56 tic-tac-tic-tac
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mirror, mirror
na vitrola
bio Brasileiro da gema, viajante do mundo por natureza. Sagitariano cuspido e escarrado, com ascendente em Aquário, seja lá o que isso for. Odeia sopas e caldos mais do que tudo no mundo, seguido de perto por cinismo. Nascido na Ilha do Leite, na cidade do Recife, criado na Urca e em muitos quartéis Brasil afora, foi enrolado por sua mãe na bandeira do Sport quando nasceu, mas ama mesmo é o glorioso Botafogo de Futebol e Regatas. Afinal, amor que é amor tem que doer, e torcer pra time que só ganha é chato demais. Gosta de sentir a brisa da praia no rosto, do bobó de camarão de Dona Susana, e de frutos do mar em geral. Seus tempos de Colégio Militar no Rio o fizeram um cavalariano orgulhoso, mas um péssimo cavaleiro: ainda hoje insiste em querer montar pelo lado direito. Indie desde pequeninho, é mestre em gostar de bandas que ninguém nunca ouviu falar. Em razão do seu amor pelo róquenrou, tenta sem sucesso tocar instrumentos de cordas - violão, baixo, guitarra - mas sua incompetência não o deixa passar do meia-boca. Moço com grandes dotes culinários (só não morreu de inanição ainda por sua criatividade na cozinha), amante da boa-mesa - e de "forks" in the table - já até sentiu o sabor das nuvens. Com oito anos decidiu ser piloto de caça depois de ter visto Top Gun no cinema - desistiu aos 16 quando se deu conta que a Marinha não tinha caças e que milico ganha mal que só a porra. Hoje, graduado em Relações Internacionais pela UnB e mestrando em Comunicação na mesma, estuda para passar no Rio Branco, só porque gostou do cafezinho da Embaixada em Londres. Viciado em chocolate por falta crônica de sexo, vive dizendo que um alfajor de chocolate Havanna é quase tão bom quanto uma noitada com a Luana Piovani ou com a Jennifer Connoly. Eco-chato assumido, descobriu-se idealista depois de velho - dizem as más línguas que foi depois de ter finalmente entendido Kant, aquele mesmo que ele próprio passou a vida inteira malhando. Reza a lenda que seu idealismo é tão agudo que nunca vai deixar de acreditar em Papai Noel e na ONU. É um dos maiores acadêmicos de seu tempo, com 1,90m de altura, por isso mesmo preferindo as altas: "baixinha dá uma puta dor nas costas" reclama. Don Juan totalmente às avessas, "bigode" assumido, não tem muita afeição por gatos, a marxistas e a torcedores do Flamengo. Recebeu orgulhamente o diploma de cidadão honorário de Entre-Ijuís/RS, e já vislumbra o Nobel da Paz. Toma chimarrão regularmente, para curar bebedeira e manter a tradição. Sangue O positivo com muita testosterona, sofre de insônia, alergia a pó e falta de simancol. Escreve esse blog porque adora fazer uma graça - só não percebeu que a maior graça na vida dele é ser ele próprio.
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soft cuca ![]()
sharp cuca about this blog *idiossincrasia (id). [Do grego idiossynkrasía: ídios, próprio + sykrasis, constituição, temperamento] S. f. 1. Disposição do temperamento do indivíduo, que o faz reagir de maneira muito pessoal à ação dos agentes externos. 2. Maneira de ver, sentir, reagir, própria de cada pessoa. 3. Med. Sensibilidade anormal, peculiar a um indivíduo, a uma droga, proteína ou outro agente.Porque "Raridades & Idiossincrasias"? Não sei bem ao certo. Achei um título legal when it came out. Um título quase conceitual, eu diria. Sobre as "idiossincrasias", eu uso essa palavra sempre, mesmo soando meio intelectualóide demais pro meu gosto. No entanto, eu normalmente a uso com um sentido um pouco diferente do restrito léxico dos dicionários. Pra mim, essa "maneira de ver, sentir, reagir" se percebe nas menores coisas, aquele tipo de detalhe inerente à sua personalidade que nem mesmo as pessoas que melhor te conhecem poderiam notar. Aquelas pequenas manias, tipo Amélie Poulain, como fazer pedrinhas ricochetearem no canal ou enfiar a m?o num saco de tremoço (aliás, enfiar a mão num saco de qualquer cereal é fantástico!). Detalhes pequenos, mas muito importantes. Vitais! Essa é a idéia. Registrar estas pequenas raridades do dia-a-dia. Ou também as raridades que parecem grandes, mas que no final são igualmente pequenas. Isso faz parte do meu esforço de perceber a realidade ao redor com olhos mais clínicos, para poder enxergar a beleza dessas coisas. A manteiga derretendo no pãozinho quente, o cheiro fresco de grama molhada de chuva, essas coisas... Enjoy the experience! no baú
setembro 2004 Raridades v.1: out'02 a fev'03
Raridades v.2: out'03 a fev'04
Raridades v.3: mai'04 a set'04 - fora do ar devido aos idiotas da Globo.com
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