:: Raridades ::
segunda-feira, março 26, 2007

Papo Reto

Palavras, palavras, palavras. Quer saber? Acho lindo essa coisa de quem escreve bonito, usa e abusa das metáforas, simbolismos e alegorias. Aquela coisa de usar combinações de palavras totalmente incomuns, únicas, fazer links e rizomas com idéias distantes. Acho lindo, mas não é pra mim não.

Acredito que isso seja um sinal da minha limitação intelectual. Eu sei, sou meio burrinho e pouco criativo para tirar essas palavras tão lindas da cartola. Eu devo mesmo ser bem mais medíocre do que eu já acho que sou. E acho mais engraçado como as mentes pequenas - a minha incluída - se embasbacam com quem fala difícil. Dá um ar de superioridade, né? Algo blasé. Quem se atreve a contestar o filósofo da Sorbonne, que sorve seu café no Les Deux Magots entre uma e outra idéia genial?

É sempre dificílimo ser interlocutor de alguém assim, beletrista. Parece que todas as mensagens são cifradas. Para entender, é quase necessário ser iniciado em uma cerimônia pagã com sacrifício de virgens, ou ter passado por um exclusivíssimo curso de literatura moderna no St Martins College - lembrando sempre que as coisas e lugares chiques são exclusivas justamente porque excluem gente.

É no mínimo engraçado: usa-se a linguagem cifrada para restringir o entendimento no grupinho, mas embaralha-se tanto a mensagem que abre-se a possibilidade de múltiplas e personalíssimas interpretações. Eis aí a comunicação perfeita, um que fala o que quer como quer, e outro que entende como lhe convém. É a clareza absoluta na transmissão da mensagem. Sem ruído whatsoever.

Mas eu sou meio bronco mesmo. Sou daqueles pré-modernos, que acredita que a sofisticação tem que vir das idéias, e não da forma. Daqueles que prefere Hemingway a Faulkner, que prefere Darcy Ribeiro aos parnasianos. Daqueles que insistem nessa mania antiquada de tentar ser preciso na comunicação, que gosta dessa coisa feia que é a clareza. Sou daqueles que acha que uma digressão aqui outra ali é gostosa, mas que é fácil errar a mão na medida desse tempero.

Sabe, já é tão difícil fazer uma pessoa parar e ler uma palavra escrita que não seja um drops rápido de internet... a mensagem que precisa de mais do que algumas linhas para ser passada por completo precisa de fluxo, indo em uma só direção, não de metáforas esparramadas vazando pra todo canto. O excesso delas convida o leitor à divagação, quase sempre com sucesso.

No fim, sei que toda interpretação é personalíssima. Mas comunicar é comungar, requer abertura, proximidade, troca. Digitar no tecladinho sua trip na Mayonnaise Airlines é fácil, mas é ser dadaísta querendo ser erudito. Reconheço, tem gente que escreve assim e faz arte, é poeta. Mas há muito gato e pouca lebre por aí. Os que tenho visto recentemente são farsas, nada mais.

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RAFA @ 17:38 tic-tac-tic-tac