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sexta-feira, abril 27, 2007

Os Falsos Progressistas

Acho que há uma falha gravíssima no próprio debate sobre maioridade penal: a falta de precisão lingüística.

O projeto que ontem foi aprovado na CCJ do Senado não reduz a maioridade penal coisa nenhuma. Simplesmente deixa de tratá-la como vaca sagrada. A maioridade continua em 18 anos, mas os maiores de 16 poderiam cumprir pena desde que 1) cometam crime considerado hediondo (estupro, sequestro), e 2) que uma avaliação psicológica determine que o crime foi praticado de forma consciente. Ainda sim, cumpririam pena em separado dos outros presos.

Não se trata de prender ladrão de galinha nesse caso. Todos sabemos que adolescentes podem sim cometer crimes de gente grande se tiverem instrumentos para tal. O Estatuto da Criança e do Adolescente é uma proteção legal importantíssima, concordo... mas assim como a nossa Constituição, só está adequada apenas a Suécias. Do jeito que está, qualquer "de menor" que cometa um crime não poderá passar mais de 3 (isso mesmo, três) anos em medida sócio-educativa. O crime pode ter sido o mesmíssimo, de roubo a assassinato. A diferença entre se o vivente vai cumprir 30 anos em regime fechado ou se vai cumprir um décimo disso numa Febem da vida é só o fato dele ter passado a "barreira dourada" do décimo-oitavo aniversário. Que fique claro que Cajes e Febens são bem ruins, é verdade, mas aposto que as penitenciárias são infinitamente piores.

Tá achando barbárie? Até em países-exemplo de welfare state e respeito pelos Direitos Humanos, como Canadá, Espanha e Holanda, os casos descritos se aplicam a maiores de 12 anos. Na Alemanha e Japão, 14, e na Escadinávia, 15 anos. Tá certo, não precisa ser 7 anos, omo Austrália e Irlanda, nem 10, como no Reino Unido. Mas, qual é a lógica então? Com 16 anos, no Brasil, é possível votar e escolher os destinos da nação. Pode-se casar, emancipar-se, em alguns casos até dirigir. Mas para o legislador, se der um tiro em alguém, o menor não sabe o que está fazendo. É uma maioridade seletiva, digamos assim. Com bônus mas sem ônus.

Frise-se: o menor de 18 anos só cumprirá pena se o laudo técnico, elaborado por junta designada por juiz, ateste a plena capacidade de entendimento do menor do ato ilícito praticado, e só vale para crimes considerados por lei como hediondos. Ok, precisamos de mais escolas, e menos cadeias. Mas educação não é problema do ordenamento penal. Faz parte da nossa mentalidade ingênua de considerar que a culpa do crime é sempre de alguém abstrato, a sociedade, o sistema capitalista excludente, a falta de escola. A culpa nunca é de quem cometeu o crime.

O pior é ver os falsos progressistas se pronunciando contra a aprovação da PEC. Ontem o Suplicy até mandou o seu recado no rap. Ora senador, eu também gosto dos Racionais MCs... Me emocionei, até. A arte do morro está na mesa do legislador, veja só! Mas do jeito que o sistema está, o crime para o menor infrator é a aprovação no vestibular da Febem, que na grande maioria dos casos (70%, segundo as estatísticas) em três anos forma um criminoso, diplomado, com contatos no submundo, prontinho para ir um pouco além de "reincidir" no crime. Peço encarecidamente que os que se dizem progressistas pensem, com a razão e com a consciência, em relação aos prós dessa medida. E que calem a boca antes de disparar asneiras com as ouvidas ontem no Congresso.

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RAFA @ 11:39 tic-tac-tic-tac