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terça-feira, abril 10, 2007

Uma Fábula Fabulosa e Teleguiada

(singela homenagem a Millôr Fernandes)




Era uma vez uma rosa muito vermelha e bonita, e que se sentia envaidecida em saber que era a mais linda do jardim. Por anos a rosa viveu feliz na certeza de sua beleza. E tudo corria bem.

Um dia, porém, a rosa deu-se conta que as pessoas somente a admiravam de longe. Sentiu-se isolada, sozinha. Queria seu fã-clube mais próximo - na verdade, queria mesmo era ser carregada pela sua massa de aficionados. Seria a glória, a apoteose.

Estava decidido: algo precisava ser feito. Algo forte, que a aproximasse definitivamente de seus admiradores. E precisava ser já. Tinha ânsia de sentir-se amada e importante de novo. Sentia que estava perdendo tempo de primavera para exibir-se.

Não se dando conta que tinha espinhos - e de que essa era a verdadeira razão da distância dos observadores - a rosa logo achou um motivo para o calvário que vivia. Sim, a culpa era do sapo, um cururu enorme e verde que morava a seu lado. O sapo era um amigo fiel e tranquilo, mas pensou ela: aí está a razão de todo o meu sofrimento. Pensou: o sapo é feio e asqueroso, não lava o pé, e ofusca minha beleza. Ademais, onde já se viu, um sapo andar ao lado de uma rosa tão linda, nobre e bem-nascida?

Indignada com sua constatação, a rosa ordenou ao sapo que se afastasse dela imediatamente. Disparou-lhe pérolas do mais puro egoísmo, dizendo-lhe que eram "diferentes" demais para estarem tão próximos. O sapo entristeceu-se, revoltou-se, mas por fim aceitou se mudar.

Algum tempo depois, o sapo passou por onde estava a rosa, e se surpreendeu ao vê-la murcha, sem folhas nem pétalas. Estava sem viço nem cor.

Penalizado, o sapo coaxou: - Que coisa horrível, o que aconteceu com você?

A rosa respondeu: - É que, desde que você foi embora, as formigas me comeram dia a dia, um pouco por vez, e agora nunca voltarei a ser o que era.

O sapo responde, consternado: - Quando eu estava por aqui, comia todas as formigas que se aproximavam de ti. Por isso é que eras a mais bonita do jardim...

Moral da Estória: todos nós temos espinhos. Mas quando nos falta senso crítico, a famosa "noção"... aí pan, fode tudo.


"Sou rosa vermelha, ai meu bem querer,
beija-flor, sou tua rosa, hei de amar-te até morrer"


(Foto de domingo, na casa do Durval na ParkFarAway.)

RAFA @ 17:42 tic-tac-tic-tac