:: Raridades ::
quarta-feira, outubro 31, 2007

Ontem, terça-feira. Mais uma vez, parecia que a terra estava com febre. Mais uma vez senti uma váibe esquisita no ar. Mas em vez de só sentir, dessa vez a coisa me levou bonito. Tive uma noite de fúria.

Me considero uma pessoa calma, tranquila, um cidadão trabalhador e pacato. Como se diz na minha terra, não ofendo a um pinto, sendo meu. Mas vá lá, todo mundo tem direito a estar de saco cheio um dia que seja. Pois meu saco dourado estourou ontem, e estourou bonito.

Ontem seria o tipo de dia que eu poderia machucar alguém really bad. Não aguentava mais os espertinhos do trânsito, a esperteza do supermercado em me cobrar o dobro do normal por um produto, o marxismo latino-americano idiota e acéfalo, a lerdeza média das pessoas, o teleatendimento da TIM que não funciona. Tudo me incomodava visceralmente. Nessa hora o Capitão Nascimento dentro do Rafa aflora. Ontem, de fato, mandei dois tomarem no cu, com sinceridade, em menos de vinte minutos.

Engraçado como é a testosterona: você fica agressivo, e dá pra perceber como seus sentidos ficam alertas, como os músculos respondem mais rápido e com mais força, a temperatura corporal e o suor aumentam também. Mesmo um cara franzino que nem eu poderia quebrar a cara de um jiujiteiro assim, com uma só no meio da fuça. Na boa mesmo, sinto que com a força e agressividade que eu estava ontem, poderia realmente ganhar de um cara bem maior e mais forte. No final, a motivação deve mesmo superar a desvantagem física.

Mais uma terça insana. Será Marte? Ainda bem que ninguém cruzou meu caminho ontem. Tadinho de quem o fizesse.

RAFA @ 12:15 tic-tac-tic-tac

quinta-feira, outubro 25, 2007

É, eu sou mesmo um cara muito esquisito. Ontem tive uma noite meio bizarra, fui ver uma amiga cantar numa exposição na Aliança Francesa, nada demais... bem, nada demais, mas aquela Habanera do Bizet, as fotos de orquídeas, estórias de tatuagens, falar na falecida, e parar cinco minutos pra pensar na vida apertaram algum botão aqui na cachola, não sei bem qual. Acho que o santo do Jung tava rondando há algum tempo, não teve como não pensar em arquétipos.

Bem, essas palas não têm a menor utilidade só na minha cabeça. That's why I'm sharing them with you. Amizade é isso, não basta ser louco, tem que arrastar os brothers todos pro manicômio.

* * *

ROSAS

Não entendo essa minha fixação por rosas vermelhas.

Elas são o fogo, a paixão. São intensidade na suavidade. São a loucura fatal de um hedonismo incandescente. São Ísis, Afrodite, a cigana Carmen. São a energia de Xangô e Iansã.

Mas todas as rosas têm espinhos. Tão difícil é tocá-las sem se ferir! Para quem quer cuidá-las, sangrar é inevitável.

Percebi, talvez tardiamente, que dá trabalho demais ter uma bela rosa vermelha no meu jardim. As escarlates podem ser tão fascinantes quanto volúveis. Por vezes até fúteis, rendem-se ao primeiro besouro que vem lhe ferroar, e assim caem, murcham, vítimas de sua própria intensidade. Do jardineiro requerem atenção permanente, que eventualmente vira obsessão.

Não é o que quero. Há tantas outras flores interessantes a serem cuidadas... exóticas orquídeas, alegres girassóis, lírios, cravos, tulipas, jasmins. Cada qual tem seu charme, seu perfume único. Pois então, porque gosto tanto das malditas escarlates?

Eis que finalmente percebo a chave: as rosas nascem para serem roubadas de outros jardins, não para serem cuidadas. Os espinhos são a maneira que têm para dizer que podem proteger-se sozinhas - apesar de sabermos que não conseguem. Não se deve, portanto, cercá-las de mimos. Ficam mal acostumadas, e acabam ferroando quem as cuida.

Acho que para mim estará bom assim: em casa, cuidar de minhas tulipas. Mas quando a cerca estiver baixa e o jardineiro não estiver perto, terei todo o prazer de roubar rosas, machucar os dedos, sentir a dor e a volúpia de suas pétalas.

"L'amour est enfant de Bohème,
il n'a jamais, jamais connu de loi;
si tu ne m'aimes pas, je t'aime:
si je t'aime, prends garde à toi!"

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RAFA @ 15:20 tic-tac-tic-tac

quarta-feira, outubro 17, 2007

Tenho que confessar que não estou cumprindo uma das minhas principais metas para esse ano: blogar. Na minha experiência de epifania de ano-novo esse foi um dos principais temas. Ás vezes as coisas movem-se tão rápido que é preciso aproveitar-se do registro escrito para sistematizar alguns processos dentro da cabeça. Eu sempre achei que a melhor coisa sobre blogar é a sensação de clareza de raciocínio que vem depois. Mas, trabalhando do jeito que eu estou, e todos esses meses sem internet em casa... não tem blog que resista.

Acho que os problemas são muito mais operacionais do que psicológicos. Para ter a tal clareza para escrever são necessários alguns momentos de calma e ócio (tudo o que eu não ando tendo) pra deixar a coisa fluir. Tenho idéias sobre bons textos o dia inteiro, mas na hora cruel, de frente pro teclado, cadê? Acho que a coisa vai melhorar com o novo celular, com as voicenotes vai dar pra ir registrando as coisas durante o dia.

* * *

Havia uma váibe esquisita no ar ontem. Aliás, já não é a primeira terça-feira que sinto isso antes de ir para o meu sambinha sagrado de toda semana. Era uma espécie de dissonância, um grande ruído, como se a terra abaixo de nós estivesse com febre. Isso me deixou meio irritadiço, estava sem paciência pra nada, nem para o papo fútil das patricinhas da mesa ao lado, nem para o atraso do garçom, para a dona maria que ficou passeando no trânsito falando no celular.

Não sei, mas a impressão que eu tive é que a terra estava reclamando por água. Já passou da hora de começar chover nessa cidade: os primeiros pingos normalmente vêm na primeira semana de setembro, mas já estamos na segunda semana de outubro e só chuviscou em alguns lugares esparsos.

Saiu no Correio deste fim-de-semana uma crônica que acabava mais ou menos assim, parece mesmo que essa primeira chuva depois da longa seca faz tudo renascer por aqui. Engraçado como esse sentido de renovação e renascimento é presente nessa época do ano. Outras civilizações, como os celtas, já atribuíam o valor de fertilidade a esse período entre o equinócio de primavera e o solstício de verão. Parece ser essa a época do ano-novo 'natural', por assim dizer.

De mim, bem, continuo com essas minhas palas esquisitas, com essa antena captando frequências do além. Ou talvez seja eu mesmo precisando que chova na minha horta. O que falta? Acho que agora é só uma questão de oportunidade, de ter as nuvens certas na hora certa. Talvez por isso é que tenha colado na minha cabeça aquela crássica do Everything But The Girl "and I miss you, like the deserts miss the rain"...

RAFA @ 15:04 tic-tac-tic-tac