:: Raridades ::
quinta-feira, outubro 25, 2007

É, eu sou mesmo um cara muito esquisito. Ontem tive uma noite meio bizarra, fui ver uma amiga cantar numa exposição na Aliança Francesa, nada demais... bem, nada demais, mas aquela Habanera do Bizet, as fotos de orquídeas, estórias de tatuagens, falar na falecida, e parar cinco minutos pra pensar na vida apertaram algum botão aqui na cachola, não sei bem qual. Acho que o santo do Jung tava rondando há algum tempo, não teve como não pensar em arquétipos.

Bem, essas palas não têm a menor utilidade só na minha cabeça. That's why I'm sharing them with you. Amizade é isso, não basta ser louco, tem que arrastar os brothers todos pro manicômio.

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ROSAS

Não entendo essa minha fixação por rosas vermelhas.

Elas são o fogo, a paixão. São intensidade na suavidade. São a loucura fatal de um hedonismo incandescente. São Ísis, Afrodite, a cigana Carmen. São a energia de Xangô e Iansã.

Mas todas as rosas têm espinhos. Tão difícil é tocá-las sem se ferir! Para quem quer cuidá-las, sangrar é inevitável.

Percebi, talvez tardiamente, que dá trabalho demais ter uma bela rosa vermelha no meu jardim. As escarlates podem ser tão fascinantes quanto volúveis. Por vezes até fúteis, rendem-se ao primeiro besouro que vem lhe ferroar, e assim caem, murcham, vítimas de sua própria intensidade. Do jardineiro requerem atenção permanente, que eventualmente vira obsessão.

Não é o que quero. Há tantas outras flores interessantes a serem cuidadas... exóticas orquídeas, alegres girassóis, lírios, cravos, tulipas, jasmins. Cada qual tem seu charme, seu perfume único. Pois então, porque gosto tanto das malditas escarlates?

Eis que finalmente percebo a chave: as rosas nascem para serem roubadas de outros jardins, não para serem cuidadas. Os espinhos são a maneira que têm para dizer que podem proteger-se sozinhas - apesar de sabermos que não conseguem. Não se deve, portanto, cercá-las de mimos. Ficam mal acostumadas, e acabam ferroando quem as cuida.

Acho que para mim estará bom assim: em casa, cuidar de minhas tulipas. Mas quando a cerca estiver baixa e o jardineiro não estiver perto, terei todo o prazer de roubar rosas, machucar os dedos, sentir a dor e a volúpia de suas pétalas.

"L'amour est enfant de Bohème,
il n'a jamais, jamais connu de loi;
si tu ne m'aimes pas, je t'aime:
si je t'aime, prends garde à toi!"

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RAFA @ 15:20 tic-tac-tic-tac