:: Raridades ::
quarta-feira, agosto 15, 2007

Auto-conselho

"Faça como o velho marinheiro,
Que, durante o nevoeiro,
Leva o barco devagar..."

* * *

RAFA @ 10:14 tic-tac-tic-tac

sexta-feira, agosto 03, 2007

Morte no Avião - (trecho)
Carlos Drummond de Andrade



Acordo para a morte.
Barbeio-me, visto-me, calço-me.
É meu último dia: um
dia cortado de nenhum pressentimento.
Tudo funciona como sempre.
Saio para a rua. Vou morrer.


(...)Pela última vez miro a cidade.
Ainda posso desistir, adiar a morte,
não tomar esse carro. Não seguir para.
Posso voltar, dizer: amigos,
esqueci um papel, não há viagem,
ir ao cassino, ler um livro.


Mas tomo o carro. Indico o lugar
onde algo espera. O campo. Refletores.
Passo entre mármores, vidro, aço cromado.
Subo uma escada. Curvo-me. Penetro
no interior da morte.


A morte dispôs poltronas para o conforto
da espera. Aqui se encontram os que vão morrer e não sabem.
Jornais, café, chicletes, algodão para o ouvido,
pequenos serviços cercam de delicadeza
nossos corpos amarrados.


(...) Vivo
meu instante final e é como
se vivesse há muitos anos
antes e depois de hoje
uma contínua vida irrefreável,
onde não houvesse pausas, síncopes, sonos,
tão macia na noite é esta máquina e tão facilmente ela corta
blocos cada vez maiores de ar.


(...) Sou um corpo voante e conservo bolsos, relógios, unhas,
ligado à terra pela memória e pelo costume dos músculos,
carne em breve explodindo.


Ó brancura, serenidade sob a violência
da morte sem aviso prévio


(....) golpe vibrado no ar, lâmina de vento
no pescoço, raio
choque estrondo fulguração
rolamos pulverizados
caio verticalmente e me transformo em notícia"


RAFA @ 12:16 tic-tac-tic-tac